No segundo jogo entre Santos e Vellez, meu pai e meu irmão
vieram assistir à partida aqui em casa. Sou casado há quase dois anos e foi a
primeira vez que assistimos a um jogo aqui em casa. Meu irmão trabalha à noite,
meu pai não é muito de sair de casa. Com eles também veio a família de um amigo
que conheço há 30 anos, desde os nem tão saudosos assim tempos de pré-escola,
mas esse sempre está por aqui, com ou sem jogos.
O jogo foi truncado, ruim, e não deixou muitas esperanças de
que a gente pudesse vencer pela segunda vez consecutiva. Mas torcemos juntos,
nos angustiamos juntos, nos divertimos juntos, e vencemos juntos, ficamos
aliviados juntos. Valeu mais que algumas vitórias mais fáceis.
O jogo contra o Bolívar, na Vila, eu assisti em casa,
sozinho. O Santos precisava vencer. Foram oito gols, sendo que pelo menos seis
foram golaços. Quando minha esposa chegou em casa e eu falei o resultado, ela
achou que eu estava brincando e que o Santos havia perdido. Tolinha.
Quando Neymar, Ganso, Arouca, Kardec e companhia já davam
olé naqueles bolivianos cavalos, recebi um telefonema da minha sobrinha. Não,
não seria o melhor momento para ligar, o pai dela também é santista e gritava
do outro lado da linha a cada desperdício do time da Vila. Ela queria me avisar
que fora aprovada no vestibular. O jogo ficou em segundo plano.
No segundo jogo contra o Inter, minha sogra internada, o
coma. Recebemos a visita, na hora do jogo, de alguns amigos que queriam saber
como estávamos, eles mesmos haviam perdido um ente muito querido poucos meses
antes. O jogo terminou empatado, o que para o Peixe não deixou de ser lucro.
Neymar perdeu alguns golaços, mas, quando nossos amigos foram embora, a
tristeza pela proximidade da tragédia era bem menor, e não foi pelo jogo.
No segundo jogo contra o time peruano de escrita chata,
recebi amigos em casa, mas uma chuva daquelas derrubou o sinal e não vimos
quase nada do jogo, que foi mais ou menos por causa da chuva. Enquanto o jogo
não reaparecia na tela, me deliciei com o filho desse meu amigo quase irmão –
logo, os filhos dele são quase meus sobrinhos – de três anos incompletos, lendo
as histórias da Branca de Neve e da Cinderela lá do jeito dele, ou seja, pelo
que ele conseguia concluir vendo as figuras. “ela tá sem sapato!” e “a princesa
tá morrida!” foram as frases que ficaram na memória dessa noite.
No primeiro jogo contra o Inter, também estava com visita em
casa. Vi dois gols antológicos.
No primeiro jogo da Libertadores, contra aquele outro time
boliviano que sempre faz papelão, eu pensei que a minha operadora não tinha o
canal da Libertadores no pacote. Descobri por acaso, na hora do jogo, e vi o Santos
perder, mas jogando muita bola. Fui dormir cheio de sonhos futebolísticos que
não se realizaram.
Agora, no primeiro jogo contra o Corinthians, estávamos com
a Nina em casa, um filhote de Maltês que trouxe a nossa casa uma felicidade
felpuda e agitada. Ela comeu umas pipocas que caíram no chão e ficou doente até
conseguir pôr para fora o que lhe afligia. Sofri mais pela Nina do que pelo jogo,
e olha que perder para o Corinthians sempre dói.
No segundo jogo, sem visitas em casa, não jogamos nada e
perdemos, apesar de empatarmos. No dia seguinte eu tinha entrevista para o
mestrado, o que, na hora da partida, não me afligia tanto.
Na primeira final entre Corinthians e Boca, assisti ao
primeiro tempo sem prestar atenção e fui dormir.
Entre uma rodada e outra do campeonato, perdi minha sogra,
que era corintiana. Ela estaria empolgada.Passei uma semana tentando torcer
para o Corinthians, mas não consegui. Desde o começo da Libertadores, escrevi
dois livros infantis em versos, que o amigo e parceiro Daniel Argento está
ilustrando e diagramando. Mudei de escola. Revisei para algumas editoras. Chorei
bastante. Sorri menos. escrevi outras coisas. Voltei a nadar, mas pouco, por
causa do ombro. Tive uma suspeita de dengue e uma hipoglicemia que quase me
empacotou. Passei a amar um pouco mais a minha família. Repudiei Lula, Maluf,
Hadad, Soninha, Serra, Demóstenes, algumas revistas semanais, jornais e
emissoras de televisão. Li muitos fragmentos de livros, alguns inteiros,
incluindo Cabeça a prêmio, de Marçal
Aquino. E, com tudo isso, fiquei com aquele gosto de vida vivida pela metade.
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