sexta-feira, dezembro 28, 2012

Quase amargura



Não sou eu quem para diante das imagens sensacionais e alheias que pipocam pelas redes sociais. Não sou eu o homem que chora a enxurrada que leva móveis de fórmica e compensados pelas ruas suburbanas das capitais. Não sou eu quem grita o nome do time vitorioso em mais um campeonato milionário. Não sou eu quem ignora os vizinhos empilhados sobre madeirites, ao pé do córrego. Não sou eu quem sente o coração mais frio diante da urna funerária onde depositaram os restos de um amor qualquer.
As árvores exibem suas luzes e doces, os pais gabam-se dos gastos e economizam abraços, as mães amontoam-se pelos salões de beleza, os sacerdotes suam sob as vestes sagradas, a bela neve de longe congela as veias, a morte, entre os cegos do caos, passeia.
Nas redes sociais exibimos nossos fantoches, nas ruas, a solidão, nos quartos destilamos a avareza, empoamos sorrisos de gesso.
Não sou eu quem rasga a própria amargura enquanto range os dentes. Não sou eu quem vomita inveja diante da TV. Não sou eu quem se lança de arranha-céus, lado a lado com a esperança. Não sou quem escreve estático por não enxergar a saída.
Os fogos não queimam o que dói, as ceias não fartam as almas, os abraços não aquecem o que é frio.
A vida já rompe interrompida. A compaixão, se é verdadeira, fica.

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Para gostar do Natal



Acredite, existe
Bem macio, um Espírito
Que nos emana esperança
Nos irmana
Vai além das compras
Das crises
Dos desabraços
Da suntuosa ceia sem sabor
Do presente indesejado
Do desejo míope realizado
Um Espírito que nos avisa
A todos os credos, aos incrédulos
Que nasceu um Salvador

domingo, dezembro 16, 2012

Leve suas batatas, Corinthians



As brincadeiras e provocações são elementos que tornam o futebol mais divertido, disso ninguém tem dúvida. Lembrar feitos vergonhosos do time adversário, fazer trocadilhos, exaltar a falta desse ou daquele título, são coisas que animam as rodas de conversa, causam risos, preenchem os vazios das conversas constrangedoras. A brincadeira com o time adversário só fica desagradável quando o torcedor é chato e desagradável por natureza.
Todas as provocações não grosseiras, todas as piadas não estúpidas, todas as lendas não difamadoras são válidas até um time sair vencedor. A partir daí, o normal é esperar que os vencedores curtam a vitória e que os perdedores reconheçam a superioridade do adversário, ou que se calem e deem passagem ao campeão. A deveria ser simples assim. Como Machado já nos mostra com a filosofia humanitas, lá nas Memórias do cínico Brás Cubas: ao vencedor, as batatas!
Acontece que, infelizmente, o mundo é povoado por pessoas rancorosas, invejosas, que amam tripudiar, humilhar, provocar para além do limite da amizade e do bom-senso.o mau vencedor, na hora da vitória, passa a maior parte do tempo insultando os adversários, enquanto o mau perdedor tenta desmerecer o ganhador, fica relembrando em tom de agressão as conquistas do seu time, caça desculpas esfarrapadas para justificar o êxito do outro. Aí o que deveria ser legal vira uma coisa desagradável, chata, pedante, canhestra.
Em São Paulo temos quatro times grandes na história do futebol. Cada um deles tem seus momentos de glória e de ocaso, de magia e de mediocridade, de arte e do mais barato prosaísmo. Agora é a vez do Corinthians. Deixem os caras comemorar, o time deles, para levantar a taça de campeão mundial de clubes venceu um campeonato nacional, outro continental e desbancou o campeão europeu. O título é incontestável.
Os são-paulinos precisam saber que a conquista de hoje não apaga os diversos títulos de seu time, que é grande, o que mais conquistou Libertadores e mundiais entre os clubes brasileiros. Mas hoje quem manda no futebol é o Corinthians, gostemos ou não. Os palmeirenses, em baixa por conta do rebaixamento, não precisam ranger os dentes de ódio. Têm o privilégio de torcer para um clube que teve Ademir da Guia entre seus maestros, que já venceu Libertadores e que teve o maior time brasileiro dos anos 90, aquele do Edmundo, do Muller, do Roberto Carlos, do Cafu, do Rivaldo… lembrem-se de que o Corinthians, hoje campeão mundial, também passou por um rebaixamento e conseguiu dar a volta por cima de um jeito extraordinário. Aprendam, pois já é tempo.
Santistas como eu, que torceram para o Chelsea como se aquele uniforme azul fosse o nosso comemorativo do centenário, se não puderem dar os parabéns para o time do Parque São Jorge, fiquem calados. Somos privilegiados por torcer para o clube da Vila Belmiro, de todos aqueles craques tão conhecidos. Tivemos nossa chance ano passado e deixamos que o medo nos miasse; tivemos nossa chance esse ano e preferimos a letargia dos craques arrogantes à garra dos medianos esforçados. Contribuímos para a festa corintiana. Deixemos os fogos pipocarem, as confusões pueris sobre imigração e excursão, as contas duvidosas sobre ser campeão ou bi, os verbos no modo imperativo clamando por sucções de lado. Aplaudamos ou nos calemos: o que passar disso é pura chatice, semente de amargura, rebaixamento ético.
Que cada um de nós saiba reconhecer os méritos dos adversários e que saiba curtir sua dor em seu lugar, sua alegria sem sede de vingança. É essa fúria desproporcional que faz os outros antipatizarem com o seu clube. A nossa alegria não precisa ser temperada com a humilhação alheia; a nossa tristeza não precisa virar ódio. E que o jogo siga em 2013, com novas batatas a serem conquistadas e assadas

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