As brincadeiras e provocações são elementos que tornam o
futebol mais divertido, disso ninguém tem dúvida. Lembrar feitos vergonhosos do
time adversário, fazer trocadilhos, exaltar a falta desse ou daquele título,
são coisas que animam as rodas de conversa, causam risos, preenchem os vazios
das conversas constrangedoras. A brincadeira com o time adversário só fica
desagradável quando o torcedor é chato e desagradável por natureza.
Todas as provocações não grosseiras, todas as piadas não
estúpidas, todas as lendas não difamadoras são válidas até um time sair
vencedor. A partir daí, o normal é esperar que os vencedores curtam a vitória e
que os perdedores reconheçam a superioridade do adversário, ou que se calem e
deem passagem ao campeão. A deveria ser simples assim. Como Machado já nos
mostra com a filosofia humanitas, lá
nas Memórias do cínico Brás Cubas: ao
vencedor, as batatas!
Acontece que, infelizmente, o mundo é povoado por pessoas rancorosas,
invejosas, que amam tripudiar, humilhar, provocar para além do limite da
amizade e do bom-senso.o mau vencedor, na hora da vitória, passa a maior parte
do tempo insultando os adversários, enquanto o mau perdedor tenta desmerecer o
ganhador, fica relembrando em tom de agressão as conquistas do seu time, caça
desculpas esfarrapadas para justificar o êxito do outro. Aí o que deveria ser
legal vira uma coisa desagradável, chata, pedante, canhestra.
Em São Paulo temos quatro times grandes na história do
futebol. Cada um deles tem seus momentos de glória e de ocaso, de magia e de
mediocridade, de arte e do mais barato prosaísmo. Agora é a vez do Corinthians.
Deixem os caras comemorar, o time deles, para levantar a taça de campeão
mundial de clubes venceu um campeonato nacional, outro continental e desbancou
o campeão europeu. O título é incontestável.
Os são-paulinos precisam saber que a conquista de hoje não
apaga os diversos títulos de seu time, que é grande, o que mais conquistou
Libertadores e mundiais entre os clubes brasileiros. Mas hoje quem manda no
futebol é o Corinthians, gostemos ou não. Os palmeirenses, em baixa por conta
do rebaixamento, não precisam ranger os dentes de ódio. Têm o privilégio de
torcer para um clube que teve Ademir da Guia entre seus maestros, que já venceu
Libertadores e que teve o maior time brasileiro dos anos 90, aquele do Edmundo,
do Muller, do Roberto Carlos, do Cafu, do Rivaldo… lembrem-se de que o
Corinthians, hoje campeão mundial, também passou por um rebaixamento e
conseguiu dar a volta por cima de um jeito extraordinário. Aprendam, pois já é
tempo.
Santistas como eu, que torceram para o Chelsea como se
aquele uniforme azul fosse o nosso comemorativo do centenário, se não puderem
dar os parabéns para o time do Parque São Jorge, fiquem calados. Somos
privilegiados por torcer para o clube da Vila Belmiro, de todos aqueles craques
tão conhecidos. Tivemos nossa chance ano passado e deixamos que o medo nos
miasse; tivemos nossa chance esse ano e preferimos a letargia dos craques arrogantes
à garra dos medianos esforçados. Contribuímos para a festa corintiana. Deixemos
os fogos pipocarem, as confusões pueris sobre imigração e excursão, as contas
duvidosas sobre ser campeão ou bi, os verbos no modo imperativo clamando por
sucções de lado. Aplaudamos ou nos calemos: o que passar disso é pura chatice,
semente de amargura, rebaixamento ético.
Que cada um de nós saiba reconhecer os méritos dos
adversários e que saiba curtir sua dor em seu lugar, sua alegria sem sede de
vingança. É essa fúria desproporcional que faz os outros antipatizarem com o
seu clube. A nossa alegria não precisa ser temperada com a humilhação alheia; a
nossa tristeza não precisa virar ódio. E que o jogo siga em 2013, com novas
batatas a serem conquistadas e assadas
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