segunda-feira, março 28, 2011

centro excêntrico

Centro excêntrico
eu não quero só um sonho
debaixo do cobertor
bem quentinho, acomodado
eu não quero ser real

não quero virar a mesa
jogar no ventilador
o que tenho de medonho
eu não quero ser normal

não quero bater cartão
dançar no temporal
não sei levantar bandeira
nem único, nem tal

não sei as regras do jogo
não posso trapacear
as ogivas de um milagre
tenho aqui no meu quintal

minha meta eterna infância
sem fronteira, IPTU
tudo vira brincadeira
tudo fica natural

sexta-feira, março 25, 2011

a carne em três fatos



Ribombando
chácara, futebol
Sol
Churrasco
chuteiras, meiões
carne, gelo, bola
linguiça, gramado
caipirinhas
decotes, espetinhos
cerveja
coração asa e coxa
refrigerantes, trombadas
e batidas
toalha de mesa ,suor, queijos e pães
paixões
picanha, amizades
e lascívias
as migalhas à vista
a gordura das carnes
a ternura dos nervos
caneladas
dedos brilhando
o fogo, o álcool, a finta
as paixões, zero a zero
vinagrete, a bola na trave, um grito
e o sorriso
a chacota, o vestido, a falta
e o medo
rápida nuvem chumbo:
um raio escarrado na cara do sujeito
pra que tanto carvão, meu Deus?

Reverberando
O raio é o escarro dos céus

Repercutindo
O divino jamais escarra
Mas de vez em quando vomita

segunda-feira, março 21, 2011

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA IV

Maria Bethânia
Ninguém duvida da competência e da sensibilidade dessa cantora baiana, campeã de vendas de discos no Brasil, respeitadíssima; uma de nossas maiores cantoras, certamente. Sua nova prova de genialidade foi conseguir do governo mais de um milhão de reais para manter durante um ano um blog com vídeos de declamações de poemas. Este blog que você lê agora é mantido gratuitamente, prova de nossa imensa burrice. Bethânia arrumou um jeito de animar aqueles cafonérrimos papéis de paredes e Power-points que nos enviavam no período paleolítico da internet, ao mesmo tempo em que arrumou uma boquinha para si e para Andrucha, um camarada seu aí.

Jardel
Na verdade, não sabemos a verdadeira origem da frase que citaremos a seguir. Jardel seria apenas um dos candidatos mais verossímeis a verdadeiro autor: “Clássico é clássico e vice-versa”. Os poetas concretos não fariam melhor.

Polícia fluminense
A primeira desculpa que escorreu pela imprensa brasileira para explicar o sumiço dos principais cabeças do tráfico que moravam, mandavam e desmandavam em Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão foi a suposta fuga pelo sistema de esgoto local. A Companhia “responsável” pelo “saneamento” básico local logo informou: não há sistema de esgoto no local.

quarta-feira, março 16, 2011

Olhar torto para o comum
E arrancar-lhe maravilhas
Meu verso
Não tem essa poesia

Praga Digital

Quando a tecnologia avança, a nossa vida fica mais prática. Mas isso apenas para pessoas práticas: para os outros, as conquistas da ciência servem apenas para empilharem preocupações e problemas novos.
Sábado passado fui a um casamento. Local lindíssimo, buffet elegante, clima amenamente agradável. Entretanto, algo, ainda na cerimônia, me irritou imensamente: o casal, que poupou bastante e pensou em tudo, contratou uma equipe com três fotógrafos e um cinegrafista, o que certamente era mais do que suficiente para que a cobertura do casamento estivesse a contento e que poucos detalhes escapassem; mesmo assim, um verdadeiro mar de câmeras digitais era sacada a cada segundo enquanto seus donos atravessavam, sem a menor cerimônia, a visão dos outros convidados, disputavam a cotoveladas espaço com os profissionais, bancavam o paparazzo amador.
A facilidade proporcionada pelas câmeras digitais, fáceis de carregar, que dispensam filme e até mesmo o papel, que permitem tirar milhares de fotos em pouco tempo e registrar a eternidade de momentos, colocou nas pessoas a falsa impressão de que todo mundo é fotógrafo, de que tudo ao nosso redor é tremendamente especial e de que é mais importante registrar do que viver. Alguns dos “fotógrafos” no tal casamento estavam tão ocupados fotografando, atrapalhando os profissionais – que estavam visivelmente incomodados, precisando pedir licença pra poderem trabalhar e apresentar algo que valesse o que receberam para entregar – que sequer compartilhavam a alegria do casal e ainda irritavam os demais convidados, que pouco puderam ver.
Todo o excesso banaliza. Quem sai imortalizando tudo, torna a imortalidade um tédio, pois não terá tempo nem espaço para guardar tanta foto, além de perder a noção do que realmente foi especial. Claro que um casamento de alguém querido é um momento importante e até merece que tiremos ALGUMAS fotos, fora as “oficiais”, que constarão no álbum do casal. No caso do casal do sábado passado, desejamos votos de eternidade matrimonial, e achamos mesmo que assim será, mas há casamentos que duram bem menos que o tempo que levaríamos para ver todas as fotos tiradas pelos convidados.
Outra coisa: mais importante que registrar o momento, é vivê-lo. Soube de um casamento em que um dos padrinhos entrou fotografando os convidados. Além de chamar a atenção para si, ofuscando os noivos, maculou as fotos do álbum de casamento e não aproveitou plenamente um evento tão legal quanto o de fazer parte da história de amor de um casal. Talvez, entre as dificuldades potencializadas pela tecnologia das fotos, apenas a vontade de aparecer em excesso seja mais irritante que a vontade de registrar tudo ao redor. A combinação das duas, que faz das pessoas eternos turistas da existência, é algo simplesmente insuportável.

sexta-feira, março 11, 2011

mera explicação

Por que a palavra?
Ela dá voz ao grito
Som ao vácuo
E ar ao fogo
Como se não bastasse
Ela cria o mundo todo
De novo...

quinta-feira, março 10, 2011

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA III

Gilberto Kassab
Venceu uma eleição, entre outros motivos, porque dava 3Kg de leite para os alunos da rede municipal e porque prometeu não aumentar a tarifa de ônibus durante um ano. Eleição ganha, promessa cumprida, reduziu a quantidade de 3Kg para 2Kg e aumentou o preço da tarifa com juros e correção monetária. Enquanto os estudantes protestam, a polícia desce a borracha em manifestantes e vereadores e o caudilho do viaduto do chá preocupa-se em mudar de partido. Enchentes? Até as eleições a água já baixou...

Marcelo Camelo
Cingiu com maestria pastosa rock, samba e outras modalidades da música popular, com resultados variados, mas quase sempre tendendo para a flacidez, seja na voz, seja na poética. É autor de dois dos mais controversos versos dos do século XXI, com imensa carga autobiográfica: “vem cá, que tá me dando uma vontade de choraaaar” e “todo o dia o ninguém José, acorda já deitado”.

Frei Damião
O distinto clérigo é acusado de “sugerir” que católicos devotos e fervorosos incendiassem igrejas evangélicas. Mesmo assim, entrou para a história como santo caridoso.

Marcus Feliciano
O pastor da Assembleia de Deus disse que a língua portuguesa tem mais de dois milhões de palavras! O VOLP contém apenas cerca de 390 mil. O religioso não revelou suas fontes linguísticas, tampouco seus critérios para chegar a tal número.

Tia Lilica
Costumeiramente reclama do feirante que lhe vende a garapa geladinha: “Ele coloca açúcar demais!”.

A mulher dentro da bailarina

Ciranda da bailarina, de Chico Buarque e Edu Lobo, está na estante cerebral de muita gente. De vez em quando citamos seu refrão e a motivação pode ser a inveja de alguma pessoa aparentemente – e irritantemente – perfeita. A canção também é trilha dos pensamentos que temos sobre pessoas que idealizamos, mulheres, quase sempre. A namorada ainda em estado de paixão absoluta, a colega de escola com dentes perfeitos e tímida – a timidez, nas mulheres bonitas, é um bom ingrediente para torná-la uma “bailarina” – a irmã mais velha e bonitona do melhor amigo etc. quando envelhecemos, a filha, a sobrinha, a neta se tornam nossas bailarinas – irmã, especialmente irmã mais velha, nunca será bailarina, que ninguém pode idealizar a irmã, a não ser que ela não conviva conosco regularmente. Todos temos as nossas bailarinas que não têm defeitos e cujas qualidades a adornam de um modo único.
Eu também idealizei muitas mulheres. Professoras atenciosas e pacientes, tias amáveis, paixões platônicas, incluindo as que depois se concretizaram, todas foram, com a convivência, caindo da corda bamba, tropeçando nos próprios dedos, errando os passos da coreografia, despencando do tablado. Mas nada disso era necessariamente ruim: passada a natural frustração, todas as bailarinas se tornam pessoas comuns, frágeis em algum aspecto, fortes em outros e, alternando qualidades e defeitos, passaram a ser mais acessíveis, por vezes até o nível do intragável. O problema da bailarina é que não a alcançamos plenamente, não conseguimos perceber de verdade quem ela é; quando descem da sapatilha, ficam ao alcance da mão, da crítica, da realidade e é exatamente aí que deixam de ser perfeitas. Antes que passemos a amá-las, ao menos algumas delas, como serem mortais, passamos um período de latência, tristeza, desamparo.
A penúltima bailarina da minha vida – ao menos até agora – foi a que hoje é minha esposa. A idealização que eu fazia dela foi motivo de muitos problemas de convivência entre nós, no começo do namoro: suas crises de TPM, suas insatisfações, suas opiniões por vezes tão diferentes das minhas, me assustavam e o quadro que pintei sobre ela e sobre nós dois, com anjos dizendo amém para o nosso amor (argh!!). Ela, definitivamente, não é um anjo, mas uma mulher especial, generosa, bem-humorada, companheira, por vezes irritante e irritável, corintiana e que nem sempre guarda as coisas nos lugares mais tradicionais – sequer costuma se lembrar de onde as guardou. É a pessoa que torna a minha rotina, especialmente nos períodos mais angustiantes, suportável e válida; ainda que não seja a causa, ela é a imagem da minha esperança.
Uma das provas de que a bailarina errou o passo é a aquisição do primeiro namorado. Afinal de contas, segundo Chico e Edu, esse tumor tirado de um maruá é coisa que “só a bailarina que não tem”. Pois a minha única sobrinha está namorando.
Eu aprendi a idealizá-la assim que ela saiu da infância, com todos os dengos e manhas de única sobrinha, única neta, única criança da casa, e passou a ser uma adolescente simpática, bastante tímida e, acima de tudo, esperta e amável. A partir daí, para mim, ficou impossível dar uma bronca, chamar-lhe a atenção por qualquer motivo que fosse; pior: ela não me dava motivo algum para não me orgulhar, para não admirá-la, para sentir um amor de outra modalidade, nobre, doce sem ser melado, juro!
O fato de essa garotinha estar namorando, não muda, não pode mudar o carinho e a admiração que sinto. É a prova irreversível de que ela está em um processo de amadurecimento, de crescimento, como, aliás, acontece com todos os seres vivos e saudáveis. Despertou em mim uma melancolia, um sentimento de perda, que eu não sei até que ponto será real, além de um ciúme e um estranho hábito de manter as facas da casa sempre afiadas entrar para a ONG Animal castrado é animal feliz. Minha sobrinha, que sempre me ensinou porções de coisas – como a não dar bola para o rancor, por exemplo – me faz perceber mais uma vez que amar é acima de tudo não idealizar. Entre bailarinas e mulheres, estas são sempre melhores.

sexta-feira, março 04, 2011

A assunção de Itamar

A assunção de Itamar
Itamar não era deus nem orixá
Foi menino cerebral
Que corria pela várzea das rimas
Enquanto costurava melodias,
Brincava no quintal das palavras
E tudo ao seu redor vibrava.

Itamar era de cantar
Vanguardava a beleza
Peraltava a alegria
Era mar viva poesia.

Foi-se embora mais cedo
Num cometa dito negão
Itamar foi, mas é
Itamar é
Itamar é não

quinta-feira, março 03, 2011

Ziraldo, Lobato e o racismo sem ódio

Semana retrasada acompanhei de longe uma polêmica provocada por Ziraldo, que, em defesa de Monteiro Lobato teria dito que “racismo sem ódio não é racismo”.
Gosto muito do Ziraldo, especialmente por conta de seu trabalho com a revista Bundas e no relançamento do jornal Os Pasquim, dois projetos editoriais que, na minha opinião, até que eram bons, mas naufragaram por questões editoriais, mercadológicas ou coisa do tipo. Gostar do Ziraldo, no entanto, não me impede de reconhecer que ele, assim como outras pessoas que admiro muito, como Pelé, que não reconheceu uma filha, Machado de Assis e Lima Barreto, que desprezavam a cultura popular, sendo que este ainda por cima odiava futebol, mesmo defeito de Graciliano Ramos.
Jorge Luis Borges era aristocrata e elitista ao extremo; Caetano Veloso apoiou FHC; Marília Pera e Claudia Raia foram entusiastas de Collor; Hebe Camargo é malufista; Jorge Kajuru é fã de Hebe Camargo; minha esposa (ó, angústia de amar a adversária) é corintiana.
A pequena listinha é para dizer que podemos, e devemos, para o bem da convivência suportável, respeitar, ou amenos suportar, opiniões divergentes e as contradições que cada um traz. Mas a defesa formulada por Ziraldo, seja pela tese descabida do “racismo sem ódio”, seja pela ilustração entre bem-humorada e sexista que o cartunista fez para as camisetas de um bloco carnavalesco do Rio de Janeiro, passou, e muito, de qualquer limite.
Monteiro Lobato é um escritor que, com sua obra para crianças e adolescentes, participou da formação de gerações e gerações de leitores brasileiros. A julgar pela qualidade de nossas elites letradas, já poderíamos olhar para o latifundiário do Sítio do Pica-pau amarelo com desconfiança. Mas ele possui imensa gama de leitores especiais, que lutaram contra a ditadura e mais uma série de problemas sociais como a discriminação contra negros, mulheres, pobres, homossexuais, a favor da educação e da formação de leitores etc. Não vou citar vários deles; basta o próprio Ziraldo, personagem da atual polêmica, e a, acima de qualquer suspeita, Lygia Fagundes Telles, que também tem defendido o empresário de Taubaté.
Que eu saiba, Lygia não é racista; Ziraldo, eu também julgava que não fosse. Li pouco Monteiro Lobato e não gostei muito, em especial por causa de seu texto sobre o Jeca Tatu, que considero recheado de preconceito – eu e Silvio Santiago, salvo engano. Não sou entusiasta da turminha do sítio; minha geração já lia pouco e lidou mais com o Mônica dos quadrinhos e com a Emília da TV. Mas a questão, para mim, é a seguinte: um artista, se for considerado genial – e Lobato é considerado genial e majestoso por muita gente –, pode ter o privilégio de falar, pensar e defender absurdos? Ou, vendo por outro lado: um artista sabidamente criminoso – o racismo é crime inafiançável – déspota, preconceituoso, injusto, monstruoso, deve ter sua obra difundida, admirada e respeitada? Devemos separar autor e obra nestes casos?
A polêmica com Lobato começou quando um órgão federal sugeriu que o livro As caçadas de Pedrinho não fosse adotado nas escolas, por conter passagens racistas. Veio o Ziraldo e tentou transformar racismo em frescura politicamente correta. Eu, que não li o tal livro, pergunto: ele é mesmo racista? E outra pergunta: o livro é, sob o ponto de vista estritamente literário, bom? Tenho ainda outros questionamentos: se o livro é uma obra de arte apreciável – a despeito do racismo que contém – é possível usá-lo para discutirmos o racismo, fato histórico e contemporâneo em nossa história? Vale a pena censurá-lo ou deve-se utilizar As caçadas de Pedrinho de modo reflexivo? Devemos problematizá-lo ou escondê-lo? A partir de qual idade o livro é recomendado? Nesta faixa etária, elas já estão preparadas para fazerem uma leitura crítica do material? Pedrinho e suas caçadas ainda são pertinentes para as crianças de agora? Se o livro é realmente bom do ponto de vista literário, as questões raciais devem ser deixadas de lado? Existem obras racistas cuja qualidade estética “compensam” as ideias que propagam?
Atualmente, discussão semelhante acontece na França, aquele país que lida com conceitos como “limpeza étnica”, que suga e escorraça seus imigrantes, que manteve de forma bem opressora algumas colônias pelo mundo afora. Lá o escritor Celine, sabidamente racista, autor de panfletos antissemistas, é considerado por alguns especialistas o maior escritor francês do século XX. Devem ou não colocar o escritor em evidência? “pegaria mal” exaltar s qualidades de um racista? A obra dele vale o sacrifício? Seus romances são tão racistas quanto seus panfletos e suas ideias nojentas?
A reposta para esses assuntos é difícil. A arte não está acima dos valores que prezamos; na verdade ela é um poderoso meio de difundir nossos ideias; ao mesmo tempo, imbecis podem produzir obras belíssimas, na qual seus defeitos não aparecem. Mas, quando o assunto é arte, literatura em especial, toda opção é política. Hitler, com sua devoção à arte clássica sabia disso; Picasso e seus quadros cubistas também. O ditador nazista ,que dizia buscara beleza, foi responsável por parte das maiores atrocidades contra a humanidade; Picasso denunciou os horrores da guerra. Entre ambos, onde estão Lobato e Ziraldo? Abraçados a alguma ferancesinha?-

A VERDADEIRA HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA II

Parreira
Moço educado, estudado, letrado e sabido. Tem seu currículo alguns fitos memoráveis: um Copa do Mundo com a seleção brasileira campeã que deixou menos saudades. Aliás, Copa do Mundo é o seu forte: participou de seis, com cinco seleções diferentes; entre elas, está a única anfitriã que não conseguiu passar para segunda fase, a África do Sul; com Arábia Saudita, em 1998, foi o primeiro técnico a ser demitido com a Copa ainda em andamento. Mas seis vezes e quem disputou o mundial de seleções, só passou para a segunda fase nas duas em que dirigiu o Brasil.

Paulo Renato Sousa
Dizem que o filme Amor sem escalas, aquele no qual George Clooney interpreta um cidadão cujo emprego é demitir executivos foi inspirado nele. A única diferença é que o filme, executivos são demitidos, enquanto na vida de Paulo Renato, professores são esculhambados. Dizem que o otimismo inabalável é a base do sucesso de Paulo Renato. Quando o Brasil participou pela primeira vez do PISA, sistema que avalia a educação em uma série de países, no qual ficou em último, o então ministro da educação teceu o seguinte comentário:
- Pensei que o resultado seria pior.
Era inaugurado um novo método de avaliar a avaliação, cujo lema era: “não existe copo meio vazio nem vazio: ele sempre estará cheio de ar”. Com Paulo Renato, a educação brasileira caminhava a passos largos para o vácuo.

Marquês de Pombal
Mesmo não sendo do lado de cá do Atlântico, o nobre déspota esclarecido lançou luz debaixo da saia do Equador ao proibir que os colonos falassem a língua geral, o tupi ou qualquer geringonça que não fosse o bom idioma lusitano. Dessa forma, flolclorizou, estigmatizou e destroçou séculos de história indígena, iluminando com seu farolete de milha todo o preconceito a que chamam de progresso.

Rubinho Barrichello
Sem jamais acelerar, conseguiu bons contratos com equipes de ponta da Fórmula 1. Aliás, a leveza com que acionava o pedal, por algumas temporadas, foi o seu maior trunfo!

quarta-feira, março 02, 2011

HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA (A VERDADEIRA!) I

HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA (A VERDADEIRA!)
Paulo Maluf
Pra começar, o homem tem um ismo só pra ele: o malufismo. Ora, gente desagraciada pela inteligência não desfruta do próprio ismo! Alguém aí já ouviu falar em tiririquismo? Severinocavalcantismo? Dunguismo? E em Bushismo? Só se for doença de vermes barrigais.
Não bastasse isso, o cara vive respondendo processo, sendo absolvido – mesmo quando é condenado – e desfrutando de seus bens, todos conquistados com muito trabalho e boa vontade, ainda que alheio.
Sergio Naya
Sua revolucionária técnica de construir prédios residenciais com areia da praia – e depois ainda amealhar compradores para essa obra farofaônica – só não foi digna de um Nobel porque tudo desmoronou antes. O cidadão, dono de uma fortuna biliardária, enrolou enquanto viveu e não pagou indenização alguma pra ninguém.
Machado de Assis
Não é porque foi o maior escritor brasileiro de todos os tempos até hoje, mas porque conseguiu convencer toda a sociedade carioca de que era branco.
Romário
Gênio da grande área? Isso não é nada diante da imensa capacidade do Baixinho para pulverizar toda a sua fortuna em tão pouco tempo e de modo nada diversificado.
Barretão
Ninguém ganhou tanto dinheiro no Brasil produzindo tantos filmes ruins. Os que chegaram mais perto, os responsáveis pela obra cinematográfica da Xuxa, chegam aos seus pés – talvez até alcancem os seus joelhos.
Pedro Bial
Lançar pérolas do quilate de Gay Tallese, Menotti Del Picchia e Guimarães Rosa sobre a massa multicolorida do BBB e ainda ver o caldo dessa macunaímica mistura respingar no populacho nacional é feito dos mais acadêmicos! E as crônicas, então?
Malafaia, Santiago, Hernandez, Soares, Macedo et caterva
Esses caras conseguem espremer da enorme pobreza nacional fortunas pra faraó, marajá e rei da soja fazerem beicinho de pura inveja. Quem duvida, diga amém!
Ronaldo Fenômeno
Inventor da sensacional receita casamento de chantily. É um pouco salgada – alguns milhões de euros – e deve ser consumida em, no máximo, três meses. Dá um pouco de indigestão, também. Mas quem provou garante que vale o sacrifício, principalmente se você não falir pouco tempo depois.

terça-feira, março 01, 2011

As palavras mudam de ideia: vilões e maloqueiros

Às vezes, o dicionário não é suficiente. Consultando um aqui ao lado, vejo que “vilão” significa ao mesmo tempo “abjeto, baixo, desprezível”, “pessoa que tem origem plebeia” e “que habita numa vila”. Somos todos vilões? A maioria de nós não mora em uma vila, quase todos somos de origem plebeia; quem de nós é um ser abjeto, baixo, desprezível?
Atualmente, usamos o termo “vilão” para nos referirmos aos seres maus da ficção, os que atrapalham a vida dos heróis, dos “mocinhos e mocinhas”. Neste dicionário, este significado não aparece, mas, mesmo assim, revela que o preconceito endereçado pela nobreza definiu as mudanças de significado da palavra vilão. Ora, para os beneficiados pela falsa justiça divina, os membros de uma certa nobreza, os moradores das vilas eram, ao mesmo tempo, plebeus e abjetos, desprezíveis, em nada se comparavam aos nobres, indignos e prezados aristocratas. Aliás, é de se ressaltar que o mesmo dicionário apresenta o vocábulo “abjeto” ao mesmo tempo como indigno e como antônimo de nobre. “abjeto também seria nojento, sujo, intragável.
Os anos se passaram e hoje em dia conseguimos enxergar “nobreza” (entre outros significados, “distinção, excelência, mérito”) com muito mais frequência entre os plebeus do que entre os aristocratas. Aliás, entre os membros da nobreza, abundam os que não possuem mérito algum. Sabemos que há muitos vilões (moradores de vilas, plebeus) nobres, distintos, que possuem muitos méritos, e que sobejam nobres vilões (pessoas abjetas, indignas, desprezíveis).
Coisa semelhante acontece com o termo vulgar – mais uma palavra com múltiplos significados – “maloqueiro”. Segundo o dicionário que tenho aqui ao lado, maloqueiro é quem vive em uma “maloca” (habitação de índios, esconderijo ou casa pobre, de favela), seja ela saudosa ou não, mas também é o indivíduo maltrapilho ou sem educação. O dicionário não diz, mas maloqueiro também poder o marginal, o punguista (trombadinha), o baderneiro. Por que associar a moradia do índio às casa humildes das favelas ou aos cortiços? E por que associar os moradores de casas humildes à má educação, ao crime, à desordem? Herança urbana e moderna da nobreza vilã, talvez.
Quando chamo alguém de vilão, não estou fazendo alusão à origem humilde de ninguém, não sou, necessariamente, preconceituoso. A maioria de nós não sabe qual a origem da palavra, nem quais são suas implicações sociais. Ninguém chama o outro de maloqueiro para fazer alusão à moradia humilde do cidadão. A sociedade muda, a língua muda junto: as palavras mudam de ideia, brincam de esconde-esconde com seus significados, nos ludibriam – mas de vez em quando nos lembram de coisas tão abjetas quanto o preconceito e a opressão.

looping

de repente
uma corrente de ar novo
, ainda que não fosse puro,
abriu-me as janelas
lustrou-me as ideias
e amoleceu o desespero
até que ele não fosse mais
que as asas claras de uma borboleta.

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