segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Bis?

É como se a vida
Exigisse o fim
Eterna vocacionada
Para curtas temporadas

E a esperança
O eterno trailer:
Alude a mil aventuras
Mas entrega outras agruras

O universo é um cinema
(ou teatro da existência):
Pagamos meia entrada
E o troco é não termos nada

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Ocaso não

E hoje
Enquanto o dia pestaneja
Um porco-espinho em meu peito se aconchega
Lembrando que o nada
Foi minha única companheira.

O professor é o crime?

O professor é o crime?
Grande furor causa o caso do professor de Santos que, a partir de uma piada que circula na internet, aplicou problemas que dialogavam com o mundo do crime, de maneira bem grosseira, não podemos negar.
O tal professor já trabalha naquela escola há algum tempo e é muito querido pelos alunos. Teve uma ideia inocente e, eu diria, imbecil. É possível que a partir de um conceito bastante trabalhado por Paulo Freire, que afirma que o conhecimento do aluno deve ser respeitado – “o aluno não é alguém que não sabe nada e o professor não é um ser sabe tudo” – tenha achado que o universo de traficantes, cafetões, assaltantes e prostitutas fosse gerar alguma reação por parte dos alunos. Também é possível que tudo não passasse de uma simples brincadeira ou mesmo que o educador tivesse alguma visão preconceituosa a respeito de seus alunos, imaginando que eles, por morarem em um bairro carente e, acho, violento, tivessem, todos, afinidade com a criminalidade.
Parece que o professor, caso tenha se inspirado em Paulo Freire, não o entendeu direito, ou não soube fazer a devida mediação entre o universo dos alunos e a intenção de suas aulas. Pode ser que o matemático conhecesse Paulo Freire, um dos brasileiros mais respeitados no mundo, apenas de “orelhada”. Talvez seja apenas tonto, mesmo. Na verdade, sem saber exatamente o que se passou pela cabeça do cidadão e na sala de aula não é possível ter uma opinião formada, a não ser que façamos como o senhor Reinaldo Azevedo e aproveitemos a situação para falar mal de desafetos, inclusive de quem já morreu e não tem culpa de nada!
A questão é que o professor, esse professor de Santos, não é criminoso; ao menos não por passar para os alunos exercícios infelizes. É alguém se debatendo para que seus alunos aprendam; talvez um funcionário despreparado; um homem que tem uma carga de preconceito; na melhor das hipóteses um gozador que exagerou na dose. Mas agora, será julgado por pais que não têm condições de avaliar, do ponto de vista pedagógico, se a ação do professor foi inadequada ou não – eu, que sou do ramo, acho que foi inadequada, e muito! – e pela justiça. Pessoal, os criminosos da educação são outros, que também não entendem nada do assunto, mas formulam leis, concursos mirabolantes e currículos canhestros. O professor, em algum nível, é mera vítima.

Aquém do quase

Traço meu mundo-estilhaço
Pra entrar no meu máximo
E ser só o que eu quis

Rasgo, ultrapasso, desfaço
No meu vasto íntimo
E sigo infeliz

Mordo o desejo
No espelho eu vejo
Um outro ainda

Troco as cartas do meu jogo
Me abraço ao desgosto
De beijar o mesmo não

Trago entre as preces que rogo
O meu sonho no esgoto
E sem salvação

Um novo assombro
Dentro do escombro
Há outra ruína

Quando plantei esperança, erva daninha
Onde enxerguei a bonança, há dor só minha
Sobre a ilusão de escapar do mal
Nem sinal
Tolo bestial.

falso autoengano do poeta

Fernando Pessoa sabia
Que a vida esburacada
É de fato um hiato
Que mesmo pleno de arte
Desbasta

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Há um inverno que ferve
Quando
Triturado
Sinto a neve de medo
& solidão
E vejo a esperança queimar
Sem que das cinzas
Brote a mais tola esperança

Exame de vista

Leio atento no banheiro
Leio crônicas, sorrateiro
Leio artigos opinativos
Leio cremes e pasta de dentes
Leio as mãos das mulheres bonitas
(Li a mão de Lygia, meio ossuda, receptiva)
Leio a íris dos meninos tímidos
Leio as bulas, sou diabético
Posologias, arritmias
Colaterais, contraindicações
Leio as frases dos para-choques
Leio as manchas dos para-lamas
Leio os gritos pentecostais
Leio as rimas dos marginais
Leio em trânsito tantos poemas
Leio doenças, declamo edemas
A cruz nos óculos
Leio por Deus
Leio a matéria e leio os ateus
Leio enquanto o Pai autorizar
Leio pra não me acabar.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Agende suas emoções

A felicidade não olha para o calendário. A tragédia, muito menos. Sempre me incomodou a alegria que cobram de nós, por exemplo, no Natal. Não é dia de tristeza, depressão, melancolia, mau humor: sorria, Jesus nasceu! Mas Jesus nasceu há mais de 2 000 anos! E ele, compreensivo que é, não se aborrecerá comigo caso eu não esteja em estado de felicidade compulsória. Acho que pior fazem os que, a pretexto do nascimento de Deus (!) enchem a cara, dão em cima da mulher do primo, vomitam sobre os presentes. Talvez tudo isso seja a pressa que a felicidade com hora e dia marcado gera: amanhã, todos sabem que virá a ressaca e provavelmente um vazio sem nome e individual, incompartilhável.
Minha avó foi enterrada no dia 2 de novembro. A despeito de ser exatamente o dia de finados, ela partiu ao final de um feriado prolongado. Eu estava em um sítio com amigos da igreja e quase nem fiquei sabendo de seu enterro. Saí da diversão e da alegria genuína para entrar no terror do velório de uma das pessoas que mais amei – e certamente das que mais me amaram. Agora, todo ano, espera-se que no dia 2 de novembro eu esteja triste, pensativo, com olhar distante. Mas nem sempre consigo ser assim: no último, por exemplo, eu estava bem feliz: menos de dois meses de casado, aproveitei o feriadão para curtir minha casa, minha nova família. Não fui ao cemitério visitar meus avós, não acompanhei minha esposa à casa da sua avó, que lá o assunto também seria a morte recente do avô dela. Minha avó, o avô dela, ambos eram felizes e não creio que cobrassem de mim tristeza alguma, ainda mais com data certa.
No penúltimo dia da minha lua de mel, em Natal, após fazermos mergulhos sobre os corais de Maracajaú, pleno de felicidade que eu estava sentado na praia, comendo macaxeira e pastel de camarão e bebendo um inesquecível suco de abacaxi, me lembrei da minha avó. Um lágrima enorme, gorda, rolou pelo meu rosto. Foi uma só e a saudade durou pouco, mas tinha que ser no meio da lua de mel, num dos lugares mais legais que já visitei? Tinha, pois calhou dela se fazer presente justamente em um oásis de felicidade.
Nesta quarta-feira faço 35 anos! É uma data “linda”, porque a gente sabe que já está completamente, plenamente e irreparavelmente adulto e que a velhice já pode ser vista no horizonte. Mas também é uma idade como outra qualquer, com dores e delícias, maturidades e criancices, alegrias, frustrações e um punhado de dias comuns. A gente se sente velho e sábio. Grisalho e jovial. Sonha com os filhos e sente uma saudade adiantada até dos netos! Lembra dos tempos de escola e quase sente o olhar doce da avó a declarar nada além de gostar muito de você. Experimenta uma crise de idade lamentando tudo aquilo que não fizemos ou fizemos errado, mas criamos boas expectativas para o futuro.
O mais interessante de tudo é que a intensidade dessas emoções e pensamentos conflituosos só acontece em datas marcadas no calendário. Aos 35 anos a gente já aprendeu a conviver com as contradições numa boa.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Pastor sem discípulo?

Pastor hoje em dia é quase sinônimo pleno e absoluto de ladrão, picareta, estelionatário. Como quase toda generalização é mentirosa e Bíblia fala até em “bom ladrão”, é preciso afirmar que há, sim, pastores honestos, alinhados com uma vocação genuína e preocupados com a pregação de sua fé e o bem-estar de seus liderados. Eu mesmo conheço uns quatro ou cinco assim!
Há também alguns pastores que, mesmo não sendo ladrões, picaretas e estelionatários, cometem alguns “desvios sacerdotais” que precisam ser combatidos antes que virem moda. Tudo bem: que já viraram moda.
Entre estes probleminhas de conduta – que não chegam a ser mau-caratismo, cabe frisar – está o péssimo hábito de alguns pastores de não fazerem discípulos. Entre eles, há os que mal sabem o que é um discípulo de verdade.
Sabe aquele pastor que não delega, não compartilha, que centraliza tudo em torno de si? Pois é, este pastor não sabe fazer discípulos. Se tudo está na mão dele, precisa ter a cara dele, passar por ele, não há treinamento, experiências compartilhadas, crescimento das pessoas ao redor. O cara é um déspota, esclarecido ou não.
Sabe o pastor que organiza seu trabalho de tal modo que a grande vedete de sua igreja é ele mesmo? Aquele que atrai pessoas de longe para vê-lo pregar? Este também não faz discípulos; no máximo, cria plateias; ele não tem ao seu redor pessoas que, aprendendo com ele, partirão para outras vizinhanças a praticar o que aprenderam.
Às vezes, na maioria das vezes, o pastor celebridade possui ao seu redor um grupo de pessoas que, em vez de discípulos, são meras cópias, não autenticadas e de baixa resolução. Elas pensam que estão se tornando líderes tão grandes quanto o pastor que imitam, mas serão sempre arremedos, copiando ideias, hábitos e até os tiques do “mestre”. Nesse caso, nem o exemplo nem o exemplar percebem que um verdadeiro discípulo aprende com o mestre, mas mastiga, deglute e acrescenta algo ao que aprendeu: tem cara, gosto, cor e luz própria. Este tipo de relação é doentia e não permite que os imitadores cresçam, pois ficarão sempre à sombra de alguém “maior”. E para o público, o corpo da igreja ou qualquer outro grupo de pessoas, será sempre mais interessante ver o original do que contentar-se com uma pálida xerox.
O que dizemos dos pastores vale para professores, artistas, chefes e líderes em geral. Alguns dos discípulos que romperam com seus mestres deram enorme contribuição para a humanidade. O caso mais famoso talvez seja o de Aristóteles, que afastou-se de Platão e por isso entrou para a história – assim como Platão também já entrara. Claro que, quando o paradigma é péssimo, o melhor é romper, a não ser que o mau-caratismo (duas vezes esse termo no mesmo texto? Puxa...) do aprendiz seja ainda mais baixo, ou amador do que o do líder. Nesses casos, o desastre virá de qualquer lado. Na política abundam histórias desse tipo, “nunca mais votem em mim” etc.
É muito bom ser disciplulado por alguém, ter um exemplo, um padrão. Isso serve no caso de pastores, pais e filhos, amigos, professores e alunos etc. Mas é preciso traçar o próprio caminho. Pastores que não se preocupam em preparar líderes de verdade, que não largam o osso, que não espalham, no bom sentido, não são pastores de fato. Desconhecem que o trabalho, a “obra”, seguirá quando eles partirem. São pessoas apegadas ao poder e que atribuem a si uma importância que na verdade não têm, e isso tudo quando são bem-intencionadas! Nem falo dos ladrões, picaretas e estelionatários, que esses não são pastores mesmo!
A vitória de qualquer líder é auxiliar na formação de pessoas melhores, mais competentes do que eles mesmos, e não dar a entender que são insubstituíveis, nem formar um exército de imitadores baratos.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Não dá pra ler?

E o jornal Folha de S.Paulo completou noventa anos! Idade de respeito. No último sábado, o jornal publicou um caderno especial, que li de capa a capa, ou um pouco menos do que isso. O suplemento me fez refletir sobre como o jornal quer ser visto atualmente: um periódico competente e uma empresa forte. Acho que a Folha não é apenas isso – e isso já é muita coisa!
Deve ter chamado a atenção dos leitores a “confissão” feita pelo jornal, de que apoiou o golpe militar e entregou um veículo do grupo, a Folha da Tarde, a pessoas ligadas à repressão. Tanto para o apoio ao golpe militar quanto para a Folha da Tarde ter sido uma espécie de órgão oficial da ditadura em São Paulo, houve explicações que não justificaram os atos. Mas assumir suas opções, ainda que tardiamente, quando os fatos estão mais que comprovados e o perigo de grandes repressões já passou, não deixa de ser algo positivo. Faltou reiterar as desculpas pelo evento da “ditabranda” e explicar melhor o caso dos carros da empresa transportarem clandestinamente presos políticos na época da ditadura - a ditadura foi branda para quem, mesmo?
Contudo, o fato principal a ser destacado é que, para a Folha, na boa, o jornalismo não tem mais, se é que algum dia o teve, a aura romântica de outrora: jornalismo é negócio, que pode ser muito rentável para alguns conglomerados, como o que abriga a Folha de S.Paulo. A empresa sabe seguir de acordo com suas conveniências: apoiou a ditadura enquanto lhe foi conveniente e, segundo professa, foi entusiasta de primeira hora do movimento Diretas-Já, ao que nos parece, para não ficar obsoleta com a chegada da democracia. O jornal traz em seus editoriais sempre palavras alinhadas com o tucanato brasileiro – paulista em especial – mas tem um quadro de colunistas bem amplo, e no meio dele é possível, de vez em quando, ler críticas aos tucanos e até um eventual reconhecimento de boas iniciativas que partiram dos petistas. É fato que este reconhecimento costuma ser apenas na área econômica e vem sempre acompanhado da ressalva de que a origem dos acertos está em seguir a cartilha do PSDB para as finanças.
Se em outros tempos isso poderia ser irritante e “denunciado” entre os que almejam um jornalismo mais “imparcial” – ou entre os que apenas discordam das opiniões da Folha –, atualmente, tal postura pode ser vista como algo natural. A Folha de S.Paulo é uma empresa, seu publisher, Otavio Frias, apresentava-se como comerciante, não como jornalista, e seus donos têm sua colocação política e seus interesses empresariais. A imagem forjada ao longo dos anos de ser um jornal imparcial era apenas uma estratégia que rendeu bons resultados. É sabido que a mais óbvia estratégia de persuasão é apresentar-se como imparcial.
Não é porque um jornal tem suas opções que não apresenta nada de positivo. Seu principal concorrente, O Estado de São Paulo, que no imaginário popular é alinhado com setores mais conservadores da sociedade, manteve ou mantém entre seus colaboradores pessoas como Rubem Braga, Marcelo Rubens Paiva, Mario Prata e Luis Fernando Veríssimo, que tinham, tiveram, ou têm pouca identificação com as ideias políticas de seus chefes. Já a Folha, tem entre seus colaboradores Barbara Gancia, Ruy Castro, Antonio Prata, Ferreira Gullar, Zé Simão, Luiz Felipe Pondé e Tostão, ente muitos outros. Se o editorial muitas vezes irrita, alguns colunistas encantam, outros às vezes irritam, outras encantam e muitos divertem. E o jornal informa bem e rápido, apresenta boas matérias, inclusive de utilidade pública, traz muita coisa legal. Se na área da opinião, por muitas vezes o jornal me descontenta, deixa indignado, dança conforme a música de sua conveniência como empresa, é inegável que a Folha de S.Paulo oferece um excelente produto.
Não sou um leitor totalmente fiel, não sou um “folhista”. Mas leio a Folha com certa frequência; por isso, o agradecimento pelos serviços prestados e as sinceras congratulações pelos 90 anos! Dá, sim pra ler, e às vezes com muito prazer!

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Futebol e Boteco

Domingo passado aconteceu o maior clássico do futebol brasileiro, portando mundial: Santos (!) e Corinthians.
A frase acima não é deslumbre, não. A rivalidade entre Palmeiras e o time do Parque São Jorge está defasada. As históricas partidas travadas entre o time do timão e o Peixe estão em alta pelo menos desde 2001, quando o Corinthians venceu o Santos em uma semifinal do Paulistão com um golaço (...) de Ricardinho no último minuto; depois disso houve o gol de bicicleta de Alberto, pedaladas de Robinho, título brasileiro, 7x1 para o time do Parque, após jogo com exibição de gala de Giovani e vitória incontestável do time da Vila, que, aliás, foi cancelado por conta de roubos da arbitragem, golaço de Ronaldo e aquela coisa toda.
Não podia perder um jogo com esse histórico recente, recheado com o futebol maroto de Neymar, Ganso, Wesley, André, Madson, Marquinhos e ainda a possibilidade de ver Giovani brilhar. Mesmo sem Robinho, o Santos prometia. Do outro lado, um Ronaldo pesado, mas sempre perigoso, um Roberto Carlos sedento (será?) por desencantar, um Dentinho querendo morder a oportunidade de ser titular e um Theco inteligente.
Como trabalhei até certa hora no domingo, minha opção foi assistir ao jogo em um boteco na Barra Funda.
Um homem precisa apreciar alguns pequenos prazeres na vida, e o futebol no boteco sem dúvida é um deles. Em 1995, assisti a uma partida histórica, aquele maravilhoso Santos 5 x 2 Fluminense com show Giovani, em um boteco. Todos torciam pelo Santos que, devido ao longo período sem títulos era uma espécie de café com leite, mais ou menos o que a Portuguesa representa hoje. Abraçar gente bêbada e fedida após aqueles golaços foi emoção de se guardar na estante da memória, na prateleira das alegrias plenas. Só tolero bêbado quando sai golaço da seleção ou do Santos! Na semana que antecedeu àquele jogo, cheguei a ter febre, de tão ansioso – o time da Vila precisava vencer por três gols de diferença para chegar à final. Passou com toda pompa e lhe afanaram o título na final, contra o Botafogo, pelas mãos de um árbitro que depois confirmou sua fama de, digamos, tendencioso. Mas a verdade é que nem a derrota na final pôde apagar o brilho da partida contra o Fluminense.
Domingo passado havia diferenças. O Santos não está na fila – seu último título foi em 2007 e ano passado foi um honrado vice-campeão paulista – e não é mais visto como café com leite; ao contrário, é o time sensação da temporada, o adversário a ser batido, conta com o jogador mais aclamado do momento – Neymar – e com o mais novo repatriado do primeiro escalão, Robinho, que não jogou por servir à seleção na mesma semana – aliás, com apresentação de primeira. E no boteco onde fui pousar, a maioria ou não estava ligando para futebol ou era corintiana. Mas por lá só havia torcedores, não facínoras uniformizados, e isso me deixou à vontade para curtir a partida.
Jogo bom: pênalti perdido logo no começo, várias tabelinhas, Roberto Carlos perdido em campo, Ronaldo pesadão, molecada dando show, dois belos gols e mais uma ruma de oportunidades desperdiçadas. Corintianos desorientados, batendo muito, molecada da Vila tocando de primeira, se divertindo enquanto jogava. 2x1 pra nós (não sei se comentei que sou santista).
Quando o jogo acabou, fui embora rapidinho, pois moro do outro lado da cidade e não havia nenhum bêbado fedido para eu abraçar. Mas saí do bar com a cabeça erguida e a pose de alguém que pode se orgulhar de ver seu time vencer o maior duelo do futebol mundial – fora, claro, Brasil x Argentina, mas esse a gente espera pra ver se rola na Copa.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

O Sol sobre as nuvens

Chegamos em casa sob uma garoa encorpada, daqueles véus de água que nos encharcam até a vesícula. No final de uma ótima tarde de férias, que passamos entre pedaladas, risadas, conversas e sonhos compartilhados, paramos em uma famosa confeitaria do bairro, para sermos abençoados por uma saborosa fatia de bolo – o meu diet e mesmo assim delicioso – e jogarmos conversa fora. O papo passeou entre as expectativas profissionais para o ano que engatinhava e os cálculos do possível orçamento; como sempre, os trabalhos são muitos – ou nenhum, o que é sempre pior – e o dinheiro é curto, mas a vontade de superar alguns limites é sempre, e mais, e adiante.
Nossa parada na confeitaria, além da paixão pelos bolos do Seu Osvaldo, foi por causa das nuvens que já nos seguiam pelas ruas, do chumbo que cobria o céu, anunciando a chuva pesada que já se precipitava e do cansaço físico que as pedaladas nos impõem. Toneladas e quilômetros cúbicos de água despencaram dos sete céus com seu rugido líquido, varrendo as casas dos morros, afogando os carros nas avenidas. Nós dois, por dádiva ou sorte – nunca por mérito próprio – encontramos um abrigo doce e com ar-condicionado.
Ainda assim, em nós havia a tristeza do passeio interrompido bem no meio das férias, na tarde quente que sussurrava convites para flanarmos entre as árvores frondosas do bairro chique aqui pertinho, quase na borda da represa. Na televisão enorme da confeitaria, as imagens “ao vivo” da desgraça inundando a cidade nos aterravam. Em nosso abrigo, percebíamos que o mundo ainda sofre e chora, apesar da alegria que nos abraçava, por conta do casamento ainda fresco, o amor materializado em nossos sorrisos tatuados na cara, o descanso bem-vindo após um ano de mil atividades, mas coroado de alegrias. Gente perdendo casa, famílias inteiras cimentadas sob a lama genocida proporcionada pela indiferença de prefeituras e governos estaduais. Já aguardamos para breve o anúncio de que as áreas afetadas pelas enchentes e deslizamentos estarão isentas do IPTU neste ano – os barracos em áreas impróprias, livres do IPTU, serão agraciados com mais uma boa dose de indiferença. O passeio, encharcado, amarrotou-se.
Voltamos para casa sob a chuva, que já estava menos maligna, mas ainda cortante, em silêncio. Entramos em casa e ela já correu para o banheiro, aquecer e limpar o corpo, talvez livrar-se de uma lama invisível, mas igualmente imunda, a resignação que nos faz baixar a cabeça e diminuir o tom da voz quando vemos uma tragédia, mas que não nos lança a uma atitude mais útil. Enquanto comíamos uma boa fatia de bolo e curtíamos o efeito da endorfina em nossos corpos, gente se afogava, perdia móveis, carros, parentes, a própria vida, a mesma novela reprisada todo verão, nos morros e avenidas pertinho de você, dentro da sua casa.
Mas eis que. Do meio da casa, avisto pela janela da cozinha uma luz intensa, atraente. Era o Sol, em seus últimos brilhos do dia, com muito mais intensidade do que é costume exibir àquela hora. O Sol brilhava sobre as nuvens ainda carregadas, e era impossível, apesar das enchentes e deslizamentos, dos tsunamis artificiais pelas ruas, dos carros e casar submersos, não sentir algo parecido com felicidade, e algo ainda mais abstrato e empolgante: esperança.
Há pequenos prazeres que valem muito, como a risada fácil de quem amamos – e quem eu amo ri com a mesma facilidade que o Ronaldinho Gaúcho faz uma firula inútil em campo – provar um bolo de chocolate tão delicioso quanto dietético – ele existe e está bem pertinho daqui – e um pôr do sol que vence nuvens de chumbo furiosas. Eu gostaria que este mesmo Sol que reforça a minha felicidade, pudesse levar riso e paz à vida dos que se afogam submersos na água suja da indiferença.

Ganso assusta Baleia!

Mais uma vez as páginas esportivas deixam o “esporte puro” de lado e se dedicam a contratos, ofertas, negócios. Agora o pânico ronda o Santos Futebol Clube, time santástico que está na história do futebol mundial por ter abrigado Pelé e uma série de craques máximos, como Pita, Giovani, Robinho, Diego (esse anda bem sem prestígio, mas é muito bom de bola), o eficiente Elano e os geniais Neymar e Paulo Henrique Ganso. E é justamente o Ganso que está deixando a torcida mais nobre do mundo de cabelos em pé.
Já devem estar prontos por aí torcedores tão ingênuos quanto truculentos, com suas notas de 2 reais nas mãos e seus coros chulos para chamar Ganso, caso ele realmente saia do time da Vila e vá para o arquirrival Corinthians, de mercenário, vendido e outras coisas do tipo. Nada mais descabido.
Sou santista e se não fosse protestante teria em um possível altar a imagem de Ganso. Fora o jogo histórico contra o Santo André na final do campeonato paulista de 2010, o cara já fez tantas jogadas especiais, já nos deu tantas alegrias com seu futebol ao mesmo tempo elegante, inteligente e eficiente, que qualquer torcedor do Peixe que se preze tem mais é que agradecer ao craque. Já os dirigentes, precisam em primeiro lugar pedir perdão ao profissional Paulo Henrique, por este não ter sido tratado com o respeito que merece em suas duas graves contusões e na hora de renovar o contrato. Se outro time, seja ele o Corinthians, o Asa de Arapiraca ou o Real Madrid der um salário melhor, mais pão, leite e um cafuné, por que motivo o cidadão, profissional e assediado Ganso deveria permanecer no Santos? Por amor à camisa? Pelo clima quente do litoral? Ele, que é inteligente dentro e fora de campo, já percebeu que, se ficar alguns jogos sem ser genial, será cobrado, responsabilizado e maltratado pela torcida, por qualquer torcida, que o ama com a intensidade doentia que assombra os relacionamentos mais sem-vergonha. Ganso não vai querer assumir o papel de mulher de malandro em um lugar, se lhe oferecerem mais grana em outro.
Apesar de ser santista fundamentalista e, caso não fosse protestante, repito, devoto de São Ganso, não me vejo no direito de fazer apelo nenhum ao craque que tão bem fica com a camisa do alvinegro praiano; não peço que fique. Não pago suas contas e, como torcedor, me irritarei se ele fizer uma partida meia-boca pelo Glorioso. Espero que um outro time, do outro lado do Atlântico, faça proposta melhor que qualquer clube que margeie as marginais. Espero que a diretoria do Santos, por vias legais e saudáveis, consiga segurar o astro por mais algum tempo – o suficiente para que voltemos a vencer Libertadores e Mundial já estaria ótimo. Espero que, enquanto permanecer no time da Vila, Ganso seja tratado como merece; que os dirigentes consertem os erros de um passado recente – e isso inclui não mimar Neymar, craque que adora fazer beicinho.
Ainda que seja muito difícil, é necessário deixar que a justiça esteja acima da paixão de torcedor. Futebol é paixão, mas também é negócio; no campo da paixão, bem sabemos que não adianta querer segurar quem deseja partir; na área dos negócios, ninguém almeja deixar de lucrar.
Parafraseando outro mestre, o Millôr Fernandes, enquanto muitos são corintianos doentes, eu sou santista saudável; é em nome dessa sanidade que, mesmo sofrendo, prefiro a justiça de um ganso voando que a opressão de uma baleia com indigestão.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

A fé em momentos delicados

Às vezes, tudo aquilo que a gente se acostuma a dizer para os outros deixa de fazer sentido em nossa própria vida. “vai dar tudo certo”, “coragem”, “não desista”, em momentos muitos específicos da vida, soam como frases feitas – o que de fato são – e, a despeito da sinceridade de quem as diga, causam mais irritação e fastio do que renovam as nossas forças.
De que adianta repetir máximas carregadas de boas intenções para alguém que acabou de perder tudo em um desastre, teve seus sonhos mais honestos, sinceros e solidários reduzidos a pó, ou viu entes queridos morrer? Muitas vezes, as boas palavras acabam por despertar em nós um cinismo, quando não um autêntico ódio. A verdade é que de vez em quando a fé não faz o menor sentido.
E justamente pela falta de sentido, as pessoas que têm fé, de certa forma, são mais frágeis do que as céticas. Os crédulos lidam com a esperança, são movidos pela expectativa de que algo bom está adiante nos esperando, neste mundo, em outros mundos possíveis; já os incrédulos pouco se importam com o que surgirá depois da curva: não crendo em nada superior, nem esperando nada além da desintegração, não precisam lidar com a frustração endereçada a algum ser superior que pisou na bola e não veem sentido algum em sentimentos de revolta contra alguém que sequer existe, ou contra o destino, que não passa da formalização de uma abstração, de uma coisa alguma que não é nada e ainda por cima tem nome!
Se o que vai acima é verdade – e sempre será verdade, a depender de qual crente e de qual cético estamos falando; variando os participantes, os resultados podem ser opostos, híbridos, complementares – fica a pergunta: por que ainda cremos, em quem mantemos a fé? Não seria melhor nos lançarmos no cinismo, que é tão divertido quando bem manipulado? Não seria mais saudável não contestarmos o fluxo natural das coisas e aceitar que as coisas simplesmente são assim?
Pode até ser que haja algo de confortável nessa opção de vida, que aparentemente é mais livre e menos traumática. Mas a verdade é que a fé em Deus, a esperança de um mundo melhor, a crença de que alguém intercede por mim e me ajuda na travessia pelo maremoto da vida, tudo isso está tão costurado em tanta gente, incluindo eu mesmo, que já não creio, nem tenho fé, de que haja outra possibilidade que faça algum sentido. Já que vai doer de qualquer jeito, ao menos eu quero a companhia de alguém disposto a compartilhar o sofrimento, repartir as minhas frustrações e que auxilie a encontrar sentido e direção.
Na verdade, o tipo bom de fé, da fé religiosa, transcendental, espiritual ou qualquer bicho desses, é aquele que não amarra a própria existência a uma série de ocorridos. É aquela fé dos três homens que foram levados a uma fornalha, segundo o livro de Daniel: para escaparem do inferno privé que o rei preparara para os jovens, bastava dar uma curvadinha diante de uma estátua. Eles afirmaram que não se curvariam e disseram que Deus até poderia livrá-los da morte chamuscante, mas, caso não houvesse livramento algum, para eles pouco importaria. Também Ester, rainha e vencedora de concursos de beleza – esta certamente foi mais bem-sucedida que a esposa de Michel Temer, eterna vice – que decidiu conversar com o rei e pedir para que os judeus não fossem, digamos, exterminados por causa de um melindre de um cara meio invejosinho. Sobre a possibilidade “real”, sem trocadilhos, de ser executada por aparecer diante do rei sem ser convidada, Ester foi lacônica: “Se morrer, morri”.
Tanto a rainha, uma Inês de Castro que deu certo, quanto os mancebos que escaparam da fornalha, tinham fé, princípios e ideais: uma fé que ia além das circunstâncias dos resultados e que não dependia de nada parecido com o destino. Esse tipo de convicção não pode frustrar e, ao que tudo indica, só tem feito bem, pois ela não sugere guerras, massacres ou vinganças, estimula a luta contra injustiças, incentiva a tomada de atitude, não é condicional e, muitas vezes, nos surpreende positivamente. Pela sua simplicidade e singeleza, é a fé ideal para momentos delicados.

Ronaldo: Nem Peri, nem Macunaíma

E todos os feitos de Ronaldo, o Fenômeno, estão registrados em todos os meios de comunicação possíveis. Seus lances de gênio, seu vigor físico e suas trapalhadas na vida pessoal, tudo estará ao alcance de todos, pelos séculos dos séculos, ou enquanto o futebol for algo interessante e lucrativo para a humanidade.
Eu me lembro de um jogo, Corinthians e São Paulo, quando o time do Parque São Jorge, teve duas chances de gol e venceu por 3X2. O descompasso entre as possibilidades e o resultado final foi obra de Ronaldo, que marcou duas vezes – o terceiro gol um achado irritantemente genial ,preciso, por cobertura, com marcadores o rodeando. Como santista fundamentalista que sou, fiquei triste e maravilhado com a visão daquele golaço histórico.
Essa habilidade para superar as possibilidades foi muitas vezes o maior mérito de Ronaldo. Foi assim que ele superou contusões, derrapagens na vida pessoal e permaneceu em alta, admirado, perdoado, mesmo quando os erros dele só dissessem respeito ao próprio Ronaldo e às pessoas de seu convívio. Mas creio que o craque perdoará aos intrometidos. Ele sabe que os heróis acabam fazendo parte, involuntariamente, da família de todo mundo.
E Ronaldo foi isso mesmo: uma espécie de herói. Não aqueles românticos, tão perfeitos quanto artificiais; também não é um anti-herói; este estilo não combinaria com o comportamento educado e sorridente do Fenômeno. Um herói pela superação de contusões seriíssimas, pelas jogadas célebres, pelos tantos gols marcados, pelas alegrias que possibilitou a milhões e milhões e milhões de pessoas. Um herói acima da média, acima do peso, acima de tudo!

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Troca de canal, Clarah!

E o final do famigerado Troca de Família, exibido pela Record não foi como a grande audiência esperava. Mas, de certa forma, eu diria que foi muito melhor! Embora a tão falada hipótese de traição não tenha sido comprovada, bom trabalho de edição deixou uma boa dose de ambiguidade no ar, fazendo jus ao fato de haver uma escritora entre os participantes – ainda que esta escritora seja quem é.Daniela, a outra mãe do programa, virou uma espécie de Capitu!
O final também foi muito interessante, com ares de “reviravolta” típica das novelas mais recente – Flora e Clara fazendo escola também na terra do reality show. Daniela, que ao longo de quase todo o programa foi vista como uma mocinha sofredora, bem-intencionada e esforçada, deu um chilique ciumentoso quando retornou ao seu lar, chegando a agredir seu marido, tanto física quanto verbalmente. Também houve um corte de uma fala sua, quando estava visivelmente bêbada e com um ar de quem aprontou ou vai aprontar, avisando poética e filosoficamente que “o que os olhos não veem, o coração não sente”.
Não precisa ser médico ou psicólogo para supor que o acesso de ira de Daniela sugere que a moça prendeu o rabo aqui em São Paulo, embora afirmar categoricamente poderia ser injusto. Enquanto isso Clarah, que jogou uma pulguinha atrás da orelha de seu à época marido sobre as proporções e os contatos físicos com o marido trocado, ficou enciumada mesmo foi com o fato de Daniela ter limpado e arrumado a sua casa, incluindo o quarto de sua filha Catarina que, nas mais uma vez sábias palavras de Daniela, “é muito novinha para ser bipolar e espelha no comportamento da mãe”.
Agora, o mais divertido mesmo foram os comentários sobre Clarah, sem a menor dúvida a grande estrela do programa. Diamante, um cara doidão que anda com um chumaço de conduíte flexível no chapéu, disse que a escritora vive coisas que não são reais; Jason, o marido trocado de Clarah, falou durante o programa perdeu oito dias de convivência com Daniela – a fadinha que ao final virou bruxinha. Daniela foi categórica quando disse que a escritora não dá atenção pra filha e que lhe fez mal, lhe atormentou – e isso por que as duas só tiveram um encontro depois da troca! Reginaldo disse que se Clarah fosse chegar enciumada, nervosa etc., deveria ficar sabendo que no apartamento deles, enquanto Daniela esteve por lá, tiveram uma semana maravilhosa.
Será que com tudo isso, nossa heroína das belas letras refletirá melhor sobre seus valores e seus textos? Temo que não. Já há quem peça a presença da moça na próxima edição do programa A Fazenda. Sou muito favorável, em primeiro lugar porque quase não assisto a este tipo de programa – a exceção foi o Troca de Família, pela presença ilustre de Clarah e porque eram apenas dois episódios - ; e depois porque eu acredito que a menina merece fazer parte de uma galeria que conta com Viola, Tico Santa Cruz, Theo Becker e Geisy Arruda.
Quem sabe Clarah não decide se especializar nesse filão de ex e subcelebridades e deixa a literatura de lado? Daqui trinta anos, poderemos ver, quem sabe, uma dupla erótico-sertaneja com Clarah e Syang!

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Clara Averbuck borra o rímel em rede nacional

Há uma conexão direta entre Paulo Coelho e Clarah Averbuck: ambos são escritores que geram notícia mais por assuntos diversos do que pela própria obra. No caso do mago, ao menos, ele vende milhões no mundo todo, embora em suas entrevistas a literatura seja um dos assuntos menos recorrentes. Agora, o que mais aproxima os dois é o fato de acharem suas vidas e opiniões tão interessantes e necessárias que se tornam autorreferênciais. O problema dessas autocitações é que elas revelam, muitas vezes, um conteúdo muito próximo do vácuo.
Clarah acaba de voltar a ser notícia por conta de um reality show produzido e transmitido no Brasil pela Record, o Troca de Família. Creio que ela se mostrou exatamente do jeito que é, o que não deixa de ser uma virtude neste universo onde todos começam vestindo máscaras e terminam com o rímel borrado, o cílio esquerdo descolado e a peruca despetalada. Clarah já deu a largada completamente fora do esquadro.
Mas o mérito da escrevente termina exatamente onde deveria começar: o que ela mostrou para o público foi feio, tão feio quanto o que vem mostrando em sua página no twitter: enquanto corrige os erros de ortografia de quem a critica no site de microblogs, comete desvios de concordância, além de outras derrapadas sintáticas que lhe roubam toda autoridade sobre a escrita que uma pessoa que vive do próprio texto deveria ter.
Mas é certo que este comportamento entre mimado e destemperado – lembra um pouco a polêmica da “sena” da cobra protagonizada por Sasha, filha de Xuxa – não é o pior dos males. Tropicar na escrita, para Clarah e alguns de seus admiradores, pode ser visto toscamente como “opção de estilo”. O que mais incomoda mesmo são as mostras de caráter dessa subcelebridade oriunda do universo das letras.
Clarah mostrou-se indiferente à proposta do programa. Lixando-se para o que a “mãe” deveria fazer, declarou-se desde o início “de férias” e pouco disposta a ajudar nas tarefas domésticas – enquanto a outra mãe do programa tentava colocar um mínimo de ordem no apartamento da escritora e aguentava as manhas da pequena Catarina, uma “Clarah em miniatura”, segundo Reginaldo, que na época das gravações era marido da escritora.
A julgar pelo estado em que deixou o seu apartamento – cuja balbúrdia foi atribuída a uma festa no dia anterior, o que não deveria incluir as dunas de poeira encontradas no quarto de sua filha de seis anos – e pelo comportamento de sua filha, Clarah não alterou seu jeito de ser um milímetro sequer enquanto esteve na família trocada. Se antes de partir ela afirmou que a presença de sua filha às vezes é um problema, pois de vez em quando ela tem prazos e a criança “está lá”, com seus filhos temporários a postura não foi muito diferente. Se em São Paulo – e nos blogs, no twitter, pela vida afora – ela mostra-se sempre muito confiante, demasiadamente arrogante, sem ter vaga noção do tamanho do passo que pode dar, no programa a escritora também agiu assim, cantando – ao que a edição deixou parecer, sem ser convidada – com a banda de um amigo e destruindo a apresentação dos músicos de verdade. Antes, já havia declarado que não era nenhuma “tia dos peito murcho”. Além disso, a filha de Clarah já demonstrou que segue os passos da mãe: enquanto a primeira declarou que não gostou muito de uma visita a um parque aquático por haver ali, dentre outras coisas, “muita celulite” – a escritora não deixou de dar a sua cota de gordura localizada e de tecido subcutâneo inflamado às piscinas – sua filha deu mostras de grande grosseria ao não querer ficar perto de um parceiro de banda de seu padrasto devido à pinta que este tem no rosto. Atribuir pequenas monstruosidades à sinceridade característica das crianças só endossa o modo dessa cidadã encarar a vida.
O que vimos no programa, repito, é o que Clarah exibe em usas aparições públicas. Não creio que houve maldade por parte dos editores – que, aliás, fizeram um trabalho muito competente, com sequências quase autoexplicativas. Restou à escritora apenas esbravejar, falar da suposta feiura e cafonice da outra mãe, chorar em público pelo suposto – nem sei se tão suposto assim – caso que seu ex-marido teve com a outra participante do jogo. Cá pra nós, a outra mãe me pareceu muito mais simpática, asseada e bonita que o exaustor gelatinoso de POA. Sim, traição é algo ruim e egoísta, mas, se há legitimidade em tudo que a pin up da boca do lixo regurgita, tá reclamando do quê?
Muita gente já saiu em defesa de Clarah Averbuck. Declarações de amor e admiração preencheram boa parte do twitter. Há quem confunda grosseria e arrogância com atitude; há quem seja mesquinho e mau-caráter e veja nisso qualidades, sinal de nobreza. Há quem tenha enorme vontade de aparecer e chegue mesmo ao ponto de protagonizar barracos na televisão. Autenticidade. Há quem, a despeito de toda pose que exiba, precise de dinheiro e se submeta a exposições baratas. Há até escritores que não escrevem, ou que escrevem muito mal, e para qualquer uma dessas coisas, sempre haverá público. Há coisas muito piores do que tudo isso e há Clarah Averbuck, que se impõe, entre outras coisas, a árdua tarefa de analista de BBB.
P.S: Hoje tem mais Troca de família. Contrariando minhas preferências televisivas, assistirei. Clarinha, devo admitir: quando não me irrita, você me diverte.

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Verborragia Vazia

Retratinho de uma escritora brasileira contemporânea

Clarah Averbuck. Um nome já desgastado da Literatura Brasileira contemporânea. Não é novidade: tem muito espaço na mídia, e no entanto, ainda não li nenhum livro dela. Assisti a uma entrevista sua no programa Provocações, apresentado por Antônio Abujamra. O pai de Clarah é da dupla Tangos e Tragédias, umas das coisas mais interessantes que há por aí quando o assunto é entretenimento inteligente, além de ser amigo de Abujamra.
Embora ainda não tenha lido os livros da gaúcha, a julgar pela entrevista, não creio que possa esperar alguma coisa que realmente valha a pena. Claro que entrevista não tem, necessariamente, relação direta com as obras que seus autores produzem. Há muita gente por aí que é muito boa de papo e ruim, tão ruim de redação... mas fico temeroso de pagar pra ver, literalmente.
Em primeiro lugar, porque Clarah me pareceu extremamente arrogante. Disse que fazer faculdade é muito ruim, que os professores são muito ruins e castradores, que artista não precisa fazer faculdade, que os críticos são apenas críticos. Depois me pareceu infantil: disse que antes de ser mãe desejava morrer de overdose, algo, na opinião dela, muito glamouroso; que não quer chocar nem inovar, mas que acaba chocando e inovando sem querer. Falava sempre com o mesmo ar de “sou demais, escrevo livros, viajo, conheço pessoas, leio e escrevo coisas interessantes e diferentes e não estou nem aí”.
Clarah, que me pareceu muito magoada com os críticos, cujo trabalho sinceramente desconhece – ao final da entrevista fez um apelo dramático e comovente a eles, pedindo que desligassem a televisão, não comprassem seus livros e não enviassem mensagens para o e-blog dela – reproduzindo um longo e desagradável clichê, ao mesmo tempo que divulgava espontaneamente seu diário eletrônico e público. Foi de chorar.
Tudo bem, nós a compreendemos. Afinal, a crítica literária no Brasil de hoje, fora Manuel da Costa Pinto, está restrita às universidades e aos mestres, como Antonio Candido, que já não critica tanto assim. Parece lógico que quem estude Literatura não entenda e não goste de Literatura, ou talvez não goste de Clarah, não sei bem.
A artista nos informou que não consegue ser organizada, respeitar horários, que não é disciplinada (o que percebemos em seus textos); avisou que escreve para não enlouquecer (já ouviu isso antes?); que não está nem aí para a opinião dos outros (por que não escreve apenas diários então? Mas sem os colocar na internet, por favor); que artista não precisa de faculdade – descobrindo a pólvora, novamente – e, provando que já saiu da adolescência, informou que gostaria de morrer de overdose, mas a filha a demoveu desse nobre ideal. Depois repetiu tudo isso com outras palavras, pela terceira vez.
Se suas entrevistas são sempre tão cheias de clichês, será que seus textos são de alguma forma inovadores? Preciso lê-los. É possível que Clarah tenha um talento para a palavra escrita que não consiga desenvolver enquanto fala. Ou talvez não estivesse em seu dia mais inspirado. O Abujamra inibe as pessoas, especialmente as que não têm muito a dizer.
Mas mesmo que ela seja um gênio, continuará sendo uma pessoa antipática, que escreve mais pelo status de “escritora” e menos pelo amor à arte literária. Seu jeito estou tão acima que não estou nem aí, esconde uma profunda falta do que dizer. Seu descaso pelos clássicos – até os gregos e romanos foram desprezados pela autora – denunciam que Clarah não conhece a própria trajetória do universo ao qual pretende fazer parte. Se quer romper, não sabe do que está se distanciando; se mantém algum traço de seus antecessores, ignora (e a ignorância é o caminho mais curto para nos sentirmos vanguardistas).
Talvez um pouco mais de empenho na faculdade a ajudasse a saber pelo menos qual é a importância dos clássicos – até para que sua “inovação” fosse consciente – a distinguir fonte de influência, conhecer o conceito de Cânon, aprender que é justamente a crítica que dá lastro – mesmo que reprovando – às obras literárias; talvez na faculdade, Clarah descobriria que há mais escritores contemporâneos do que a meia dúzia que ela conhece. Maior empenho acadêmico serviria também para nossa amiga aprender que os clichês quase nunca produzem o efeito estilístico desejado pelo autor que os usa inconscientemente, e que os bons escritores, ainda que pertençam a movimentos artísticos bem definidos, sabem criticar e brincar com os “dogmas literários”. Ou nossa heroína – sem trocadilhos, por favor - estudou em uma faculdade muito ruim ou era uma péssima aluna, que nunca chegou a entender bem o porquê de um curso superior. Mas quanto charme ela dispensa em desprezar a universidade!
Mas posso estar enganado. Erro ao julgar a obra de Clara Averbuck apenas por uma mera entrevista – já disse isso antes? Pode ser que ela tenha um talento tão nato, tão instintivo, tão pautado na inspiração e tão inovador, que ainda não saibamos lidar com a sua obra genial. Pode ser que a exemplo de Rimbaud, Augusto do Anjos, Gregório de Matos e Walt Witman, seu reconhecimento só venha anos depois de sua morte (que pena). Se até Drummond foi ridicularizado por alguns críticos quando lançou o hoje fundamental Alguma Poesia, por que não levar em conta a hipótese de Clarah ser uma escritora incompreendida e/ou injustiçada? Pode ser. Mas até que o seu reconhecimento chegue, caso a nossa amiga esteja viva, é muito bom aprender a se expressar sem parecer um dicionário de citações e expressões pop. Ou então, seguir os exemplos de Dalton Trevisan e Rubem Fonseca e parar de dar entrevistas – isso se controlar sua vaidade. Dalton sabiamente escreveu que o conto sempre é mais interessante do que o contista; Rubem atesta ironicamente em um conto que escritor adora dar entrevista. Ambos falam pouco, mas escrevem muito – e muito bem.

PS: Com medo de escrever algo realmente muito injusto sobre Clarah, dei uma pesquisada em seus textos publicados na internet. Após apurada leitura, decidi não mudar uma vírgula sequer do que aqui vai escrito
PS2: Ainda com medo de ser considerado um franco-atirador, li o conto de Clarah inserido na coletânea organizada por Luiz Ruffato e prossigo com as mesmas opiniões acima.
PS3: Os animais são nossos amigos.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

SALMO SUBURBANO

Os vermes são a costura
De toda nossa esperança
O beijo uma doce lança
O amor é mais uma agrura

Dos sonhos não nasce a cura
A paz à morte se lança
A lama enfeitando a dança
Do não vem a dor mais pura

Nos montes não há socorro
A luz no meu sangue afoga
E eu mesmo, num vale escorro

Não sei em qual desses morros
A Deus, por mim alguém roga
Que avisa: “Não é agora”

NELSINHO SOU EU

É de arranhar o asfalto até o cotoco dos dedos; aí, deixa o sangue penetrar no chão preto e espera brotar uma flor bem roxa ou um pé de capim-santo.
Tomo muito ônibus, que é pra diluir melhor a cidade. Todas as saias, todas as bocas, todos os tops, piercings (se for no umbigo, então!), tudo espreitado, demarcado, cadastrado nas pupilas; todas as mulheres me ignoram.
Toda tarde, sol rachando ou chuva estrondando, venho me resvalando nas donas, encompridando olhares, paquerando revistinhas sujas em bancas chiques. O delírio é tamanho, ninguém me acode! Nem a Bíblia me salva: a mente maquina castelos de papelão que escondem nossas ruínas.
No trabalho, no estudo, as mesmas pernas diariamente a me zombar. Os mesmos decotes me desdenham. As mesmas bocas, cientes ou desavisadas, vermelhas, castanhas, rosinhas (ai de mim!) negam beijos, apupam. Pra quem sorriem todos esses dentes? De mim? ladrilho quebrado debaixo da pia, ninho de baratinhas é o que sou? A borrinha de chocolate quente no fundo da xícara, doce, amorfa e medonha? Palhaço do último circo de cavalinhos?
Sem talento ou coragem para encarar o globo da morte, sento no primeiro banco, saquinho de pipoca murcha na mão, as calças frouxas. A trapezista ricocheteia lentamente no ar, bamboleando no salto sem rede de proteção, maiô branco e purpurinado a planar, pernas rijas, busto estreito buscando o consolo da mão forte e amiga, que não a alcança: se caísse estrebuchando aos meus pés, pedindo perdão e beijinho...
Liberdade, Centro Velho, Boca do Lixo: a dez reais, um alívio rápido; a vinte a rapidinha, como cachorro na sarjeta; quarenta, uma lerda e suja tarde sem prazer, me jorrando em lençóis encardidos, coxas e costas um repasto de pulgas, rodelas de micoses múltiplas pelos recôncavos do corpo. Nos orelhões, etiquetas anunciam as maiores mentiras — ninfetas carinhosas, coroas fogosas, loiras naturais, casadas ninfomaníacas — e eu sempre correndo atrás do meu sonho de curto alcance: satisfação zero, sem dinheiro de volta. E amanhã recomeço, rolando minhas pedras pelas ruas nesse imenso, imundo cabaré.
Nas noites, o medo do maníaco estripador, batedor de carteiras, lobisomem de becos e viadutos — até a loira do banheiro me atordoa — só aumenta a procura pelas falsas vítimas: o coitado sempre sou eu. Sem dinheiro para investir nas bolsas, me desfaço em furtivos olhares, negaceio piscadelas insinuantes, acato ares de desdém, engulo muxoxos, “sempre esse carrapato se arrastando por aqui; qualquer dia estalo ele que nem pulga, na pontinha da unha, só pra ver a baba da lesma escorrer na sarjeta” (nessa fala me derreto todo!).
Mulheres cansadas, sorrisos de amostra grátis, cabelos fedidos (uma pasta só), pulmões defumados pelo cigarro mata-rato, pernas tortas e crespas, mapas hidrográficos em relevo (quem aguenta tanta variz assim?): com o que sonham ao luar, empoleiradas em portas de bar, estampadas em muros? Transidas de frio na beira do rio seco de piche, suadas e cheirando a pó de arroz pirata, abafadas noites adentro, o que desejam, damas, comigo? De mim? Resistiriam à proposta de louco amor, intensa aventura em quarenta minutos, mais banho e um drink, com desconto especial? Eu, o novo motivo de escárnio na cidade turva. Gigante adormecido escondido sob o capuz, sem direito a ensaio, impossível fazer a grande mágica acontecer. Elas tantas e eu tão só dentre todas.
O neón quebrado anuncia a Pan rs: o cartaz desbotado convida: Ana Hegel, a filósofa do prazer, em show ao vivo! O local do preço decalcado várias vezes. A moça das fotos, feinha, porém bem preenchida de carnes moles, faz cara de sonsa, morde o beicinho, usa calcinha branca; seus peitos crus (certamente mochibentos) nos desafiam pela mágica do Photo Shop. Bolso cheio e eu não rondaria ruas, pés em carne viva, buscando a última das bêbadas, de graça ou por preço justo. Na porta do inferno, o velho leão de chácara sem o canino esquerdo soleniza: dê cifra ou vaze. Bolso vazio, vazo.
Largo da Batata, Moema, Santo Amaro, Socorro: a última ronda, de ônibus, do rei menos o reino; nenhuma torta disposta a me redimir. Em casa, me entrego ao prazer solitário e a uma sopa de ervilhas: que a vida é feita de desafios.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

um refrão órfão

abaixo segue o refrão de uma futura canção. ele espera por uma melodia que possa ser recheada por outras estrofes. só não vale se apropriar indevidamente do que foi feito por mim. A ideia é compartilhar, não plagiar:

Na verdade esse deus não existe
Esse deus que não sabe o perdão
Pobre deus empanado em esfinge
Que só guarda o amor para o irmão
Na verdade esse deus não existe
Duro deus do pecado e do não
Que nos homens derrama o que é triste
Tosco deus que não dá redenção.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Em defesa do Corinthians

O esporte em geral, mais especificamente os coletivos, e mais estritamente o futebol, é uma excelente válvula de escape para todo o sadismo que um ser humano pode ter. Ele é antidemocrático, posto que apenas um será o vencedor – a máxima de que o importante é competir só serve em competições infantis, para que a molecada perdedora pare de chorar. O esporte é sádico, pois o grande atleta geralmente é o que, pela sua técnica refinada, é capaz de humilhar o adversário. Ou não gostamos de ver dribles que deixam o marcador estirado no chão, chapéus, saias, golaços por cobertura, de bicicleta, de voleio, e quem não se diverte quando um goleiro leva um frangaço?
E nós, os torcedores, muitas vezes nos divertimos mais ao ver um time rival perder do que quando o nosso vence. Isso é sinal de inveja, rancor, maldade recalcada.
Hoje boa parte do Brasil, ao custo da dor alheia, de pessoas que amamos, carrega um risinho cínico de satisfação. Eu, por exemplo, tenho irmã e esposa corintiana, sendo que esta arrastou toda sua família de gamb... digo, de torcedores desta nobre agremiação paulistana. Minha esposa tomou dois calmantes diferentes para conseguir dormir. Já meu sogro adormeceu rapidamente, após marretar com a própria cabeça todas as paredes de sua casa. Seu último suspiro, quando já estava coroado de galos e com a voz pastosa foi:
- E o Roberto Carlos?
A noite da cidade, que vive sempre nos extremos, foi de luto fechadíssimo, tiros para o alto de revolta, fogos de artifício, danças que exultavam a mais plena felicidade. Barbapapa, o cachorro boêmio do bairro, alvinegro – infelizmente para ele, não praiano – passou a noite bebendo água de valeta, pra esquecer. Foi amparado por amigos que gritavam em prantos “aqui tem bando de louco”, quando tentava ingerir vidro moído. Barbapapa teve boca e focinho lambidos e beijados pelos companheiros, sentado na calçada diante do botequim Fecha-Nunca, e retribuiu tristemente, com fartas lambidas. A dor irmana até espécies distintas, e um beijo amigo não déia de ser um confortável consolo.
Enquanto isso eu celebrava ingerindo baldes de gelatina diet de uva – era o que tínhamos na geladeira no momento – e pensava como a vida pode nos fornecer pequenas, mas intensas, alegrias no meio da noite de uma quarta-feira qualquer. Mais surpreendente ainda: como um joguinho sem graça pode entrar para a história e nos deixar tão felizes?
Ressalto aqui minha indignação com o sadismo que povoa os corações imundos dessa raça humana descarada, e termino com uma palavra de conforto para os corintianos tristes nesta quinta-feira abafada, quente, porém sem sol:
TOMA CURINTIA!!! TIMECO DE VILA! CENTENÁRIO CEMTENADA!!!
Esperamos, coirmãos corintianos, que vossa agremiação ainda possa nos dar muitas alegrias ao longo deste 2011 que, rejubilamos, só está começando...

Seguidores

Arquivo do blog