terça-feira, agosto 23, 2011

O universo em sete linhas

entendo o mundo como ele é assim:
purulento de pecados, para dele nos libertarmos;
encharcado de amor e beleza, para nele nos entranharmos.

o que passar disso
que eu desconheço
é o mais divino, onde estremeço.

segunda-feira, agosto 22, 2011

release canto periférico


canto periférico trata-se do livro de estreia de Pedro Borges, paulistano, 35 anos, que atua como professor e revisor; com texto de quarta capa e aval do escritor, roteirista e dramaturgo Fernando Bonassi, e apresentação e elogio de Teresa Cristófani Barreto, professora doutora do curso de Letras (FFLCH), da Universidade de São Paulo.
Os contos aqui reunidos debruçam-se sobre o contingente das figuras marginais, dos cidadãos esquecidos, levando o leitor a deslocar sua atenção de seus eixos individuais para esses coadjuvantes. Se esquecidos pela sociedade, lembrados pela literatura, na voz de Pedro.
Sem pedantismos ou uma abordagem repetida da questão social, os textos retratam com sofisticação e franqueza esses personagens secundários. Faz bom uso da ironia, sem perder a seriedade, estimulando no leitor uma confusão de sensações, que acha graça, mas não sem o fardo e sentimento de culpa dos cúmplices.
Se, no entanto, escolhe especificamente o grupo dos periféricos, trata de problemas que extrapolam os limites dessa categoria e que concernem a todos nós: a crescente e inescapável solidão a que a vida moderna nos condena. Aqui as companhias são apenas aparentes, os relacionamentos permanecem latentes e não se concretizam – ou quando acontecem, não são capazes de nos salvar da solitude – e onde os artistas e suas criações reivindicam seu reconhecimento, que por vezes vem, mas chegam e permanecem somente, sem alterar a condição de isolamento do indivíduo, que é um e que somos todos nós.
Os textos, todos já com forma e conteúdo, ideia e expressão, sons, traços, conforme atesta Bonassi, encontram seu par nas ilustrações que os acompanham, criadas por Daniel Argento especialmente para os parágrafos de Pedro.
Daniel, 24 anos, desenhista e estudante do curso de Editoração (ECA), da Universidade de São Paulo, tem sua primeira experiência com ilustração para literatura adulta em 2005, para uma revista literária experimental. Em 2008, ilustrou um livro de realismo fantástico para a Com-Arte. Ademais, já trabalhou com ilustração infantil, além de colaborar com jornais. Para o rico resultado que alcança em canto periférico, não foi sem criatividade que se dedicou, desde a escolha dos materiais: pasta de cera de carnaúba, tinta acrílica, pó xadrez, nanquim, uso de colagens e ainda fotomontagem digital para as ilustrações das orelhas. É essa ampla variedade, assomada da inspiração suscitada pelo texto, que torna possível as tantas combinações, os surpreendentes matizes e o coerente arremate.
canto periférico chega para compor a série Primeira Impressão, dedicada especialmente a autores estreantes e promissores. A obra é, assim, o primeiro ponto de uma linha literária a ser traçada por Pedro Borges, uma linha que promete perturbar as nossas, tirando o leitor de seu eixo e fazendo-nos repensá-lo.

terça-feira, agosto 16, 2011

Da frustração

A garra
Um temporal
De afiadas cimitarras
Escarrava chagas
Na meiguice rubra
Dentro do peito
Agora
Áspera luva
Cospe arranhões
Na carne da alma
Amanhã
Onde houver tato
Beijará cócegas
E a sombra de alguma dor antiga

sexta-feira, agosto 12, 2011

o homem no deserto negro de estrelas
(nenhuma noite é feita para a solidão
como nenhum homem é feito para a morte
como nenhum amor é feito para ser rasgado)
dentro do seu quarto
guarda numa caixa
o sonho a ser acalentado no dia seguinte:
o beijo roubado da mulher séria
a dignidade radiante, que se esconde
atrás dos trocados contados
assim como o poema se esconde na página branca
(nenhum verso é feito para ser borrado
como nenhuma palavra é feita para o dicionário
como nenhuma arte que se preze é feita para o gabinete do erudito crítico, do
[venerável acadêmico ou para a lousa do antipático
[professor)
o homem
no cemitério dos sonhos
guarda entre as estrelas
tudo aquilo que não cabe numa caixa.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Poesia sem bola

pois nem há verso possível
de alinhavar os caminhos
da bola que vai

ante

dá-lhe pé
dá-lhe pé
dá-lhe
pé dá-lhe

quinta-feira, agosto 04, 2011

Prece esporádica

Só quero ser
Expresso & Espesso

Espelho impresso
Esperando que os seres
Se encontrem em mim
Defrontem-me
Deformem-me

E quero ainda mais
Nadar no macio das luzes
Sem fim
Nem mim
Amém.

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