Não sou eu quem para diante das imagens sensacionais e
alheias que pipocam pelas redes sociais. Não sou eu o homem que chora a
enxurrada que leva móveis de fórmica e compensados pelas ruas suburbanas das
capitais. Não sou eu quem grita o nome do time vitorioso em mais um campeonato
milionário. Não sou eu quem ignora os vizinhos empilhados sobre madeirites, ao
pé do córrego. Não sou eu quem sente o coração mais frio diante da urna
funerária onde depositaram os restos de um amor qualquer.
As árvores exibem suas luzes e doces, os pais gabam-se dos
gastos e economizam abraços, as mães amontoam-se pelos salões de beleza, os
sacerdotes suam sob as vestes sagradas, a bela neve de longe congela as veias,
a morte, entre os cegos do caos, passeia.
Nas redes sociais exibimos nossos fantoches, nas ruas, a
solidão, nos quartos destilamos a avareza, empoamos sorrisos de gesso.
Não sou eu quem rasga a própria amargura enquanto range os
dentes. Não sou eu quem vomita inveja diante da TV. Não sou eu quem se lança de
arranha-céus, lado a lado com a esperança. Não sou quem escreve estático por
não enxergar a saída.
Os fogos não queimam o que dói, as ceias não fartam as
almas, os abraços não aquecem o que é frio.
A vida já rompe interrompida. A compaixão, se é verdadeira, fica.
Um comentário:
Belíssimo texto professor Pedro!!
Amarga é a vida de quem não conhece a si mesmo...
Um abraço!!
Postar um comentário