Agora que a Granta brasileira já lançou seu número com
jovens escritores locais, o ideal seria comentarmos apenas os contos, os
selecionados – acho que pega melhor dizer selecionado,
em vez de escolhido – as novidades,
tendências e estilos. Mas a literatura e seu entorno não é feita apenas de
ideias, mas de choro, ranger de dentes, diletantismo e perdigotos.
Eu, como muitos autores com menos de quarenta anos que já
publicou alguma coisinha, enviei material para análise e, obviamente, não fui es...
selecionado – começo a ter dúvidas
com o selecionado também, parece
coisa de fruta da estação. Achei normal, em uma profusão de textos para serem
lidos, com tantos autores talentosos, alinhados ou não com o que a Granta procurava,
estou certo de que gente boa e gente ruim ficou de fora da lista final – eram cerca
de 12.35 candidatos por vaga, proporção de vestibular da FUVEST!
O que eu não esperava ver, após o lançamento da revista, na
FLIP – parafraseando Lobão e sua visão do inferno, a FLIP não existe para quem
não esteve lá – era ver tanta reclamação, tanto mimimi, tanta lenga-lenga quanto
a que se viu em blogs como o da Raquel Cozer. Ora, todo jogo tem suas regras,
que os participantes sempre aceitam, ainda que não concordem, antes de entrar
na partida. Ficar depois levantando suspeita sobre a idoneidade dada Granta,
que não promoveu nenhum concurso público, é sinal de, no mínimo, deselegância. Viraram
todos raposas a desdenhar as suculentas uvas verde-amarelas?
Sabemos da importância de fazer parte de uma coletânea como
a Granta. Ela pode abrir portas no exterior e aqui dentro também. Mas um autor
ruim que eventualmente faça parte da revista – ainda não li nadinha e não
conheço todos de antemão; sei há gente talentosa entre os escolhidos,
selecionados ou eleitos, tanto faz – ele continuará ruim, pois a revista não é,
que eu saiba, milagrosa. E ninguém está condenado para a literatura porque foi
preterido pela Granta ou por qualquer outro concurso que exista no mundo.
Se chamou a atenção o fato de alguns dos autores da Granta
trabalharem na imprensa e em editoras conhecidas, ainda que uma ou outra
cambaleie do ponto de vista comercial, deveria chamar ainda mais a atenção que
os novos escritores fossem participantes de realities
shows, políticos ou pastores de igrejas neopentecostais, ou seja, oriundas
de classes profissionais que, grosso modo,
não lê ficção. A proporção alta de funcionários de certas editoras na lista final
indica, talvez, uma tendência, um estilo da preferência dos jurados, e não, necessariamente,
uma panelinha – e, cá pra nós, se houve essa panelinha, azar o nosso. A literatura
é muito vasta e qualquer jurado de concurso já chega com suas opções
estabelecidas; se não houve num concorrente capaz de fazer o jurado mudar e
ideia...
A nós, que não entramos na Granta, restam algumas opções:
a)
parar de escrever (torço para que muitos façam
esta escolha, de coração);
b)
juntar forças e lançar um outro veículo que faça
frente com a Granta – talvez demore algumas décadas para alcançarem o prestígio
da rival;
c)
continuar escrevendo, sem colocar qualquer tipo
de concurso ou edital na frente de sua obra.
Não
quero desdenhar dos concursos e editais. Sei da importância deles, que ajudam
muita gente. Acho mesmo que o governo, por exemplo, deveria promover muito mais
iniciativas que lançassem e bancassem escritores. Mas estou certo de que a
literatura pode até sobreviver sem concursos, editais, com panelinhas e até
mesmo com editoras que viram as costas para muita gente boa, mas ela não vive
sem escritores talentosos que se dedicam a produzir uma obra. E outra: a maior
parte do que escrevemos, quer queiramos ou não, vai acabar sendo esquecido até
por nós mesmos, quem dirá pelos nossos contemporâneos e, pior ainda, pelos que
vierem depois de nós. Isso pode funcionar como uma vingança muuuito tardia, a depender
de sua capacidade de guardar rancor. Querem uma prova?
A Baroneza de amor, Ouro Sobre Azul, Gabriella (não é a do Jorge Amado, a de cravo e
canela), Doutor Benignus, Má estrella e Virgem da tapera já estiveram entre os melhores romances de todos
os tempos! Essa lista foi tirada do livro da Márcia Abreu, Cultura letrada – literatura e leitura.
Um comentário:
você é muito coitado
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