Mais uma manifestação contra Yoani e a favor de Cuba
obstruiu um evento no qual a blogueira participava, dessa vez em São Paulo. Mais
um ato antipático, antidemocrático e anti-inteligente por parte de um grupo de
românticos que lamentam muito não terem vivido no período da ditadura militar
brasileira, quando se opor era necessário, mas também era chique. Hoje, na
falta de sabedoria para escolher a bandeira certa − há tantas causas para serem
defendidas − esses jovens engajados correm para o lado onde a palavra revolução
é mais dita e deturpada.
Dessa vez, o que mais me aborreceu foi ler em uma reportagem
na internet que Yoani foi hostilizada por grupos "pró-Cuba". O erro
do redator foi crasso: não eram manifestantes pró-Cuba, mas manifestantes
pró-Fidel e Raúl Castro, pró ditadura cubana.
A mim soa que os manifestantes não estão realmente preocupados com a
população cubana, sobre suas reais condições de vida, sobre um possível desejo
de mudança de rumo. Aqueles que seguem e ofendem Yoani Sanchés, defendem um
símbolo de resistência contra o capitalismo, defendem um mito, mas não estão
preocupados com a saúde social de Cuba. Parece que eles creem mesmo que se há
privações, insatisfação, tristeza entre os cubanos, eles precisam resistir em
nome da revolução, para servirem de exemplo ao mundo que é possível viver em um
país livre das garras dos EUA e do hálito de enxofre da iniciativa privada. Querem
que os cubanos se sacrifiquem em nome do comunismo, especialmente aqueles que
sonham com o capitalismo.
Ainda que eu não tenha dúvida de que é preciso sonhar e
buscar alternativas ao atual sistema econômico hegemônico, ainda que eu deteste
a ideia de que só o capitalismo liberta, não acredito que o comunismo cubano
seja a melhor alternativa, não acredito em uma revolução que não tenha como
meta a justiça social e a felicidade das pessoas − começo a ficar repetitivo
como as manifestações a favor de Cuba. E não acredito em revoluções que não
sejam democráticas, que não se mantenham democráticas. Sim, a democracia tem
suas limitações, mas revolução sem democracia é ditadura, e não é do
proletariado, não.
Galerinha raivosa, direcionem suas energias sua raiva, para
coisas mais produtivas, incluindo os estudos não tendenciosos. Não endeusem nem
demonizem previamente, não se neguem a compreender, a encontrar o outro lado. Problematizem.
E se são de grupo "pró-Cuba", defendam Cuba, o povo cubano, não idolatrem
os governantes cubanos acima de tudo − assim como é uma estupidez os lançarem
ao inferno sem direito de defesa. Deixem a blogueira cubana em paz, tentem
alçar blogueiros cubanos pró-Cuba à fama; ainda que sejam a favor de Cuba,
admitam que controlar a internet é algo
inaceitável, que uma pessoa ser considerada rica por comer carne mais de uma
vez por semana é absurdo, que as pessoas precisam ter o direito de votar, ainda
que corramos o risco de elegermos palhaços e ladrões.
Um comentário:
Toda revolução é uma mentira, um mito. A francesa, americana, cubana, russa...
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