Ano passado, eu pensava semanalmente em escrever uma crônica
sobre as noites de futebol na semana. Ela se chamaria O Jejum na Quarta-feira Santa e teria como personagem principal o
Paulo Henrique Ganso. Como eu estava com um medo danado de ser eliminado da
Libertadores, sempre ia adiando o texto, que versaria sobre o talento
indiscutível do meia que é herdeiro direto de Giovanni e Pita – o primeiro pela
indicação, o segundo pelas semelhanças de estilo e pela mística da sagrada
camisa 10 do Santos.
Os jogos sucederam-se muitos sem a presença de Ganso,
contundido. Mas, eu sei bem, quando chegava, o jogador aparecia, era quase
sempre para brilhar. Chegamos a final, vencemos, o time entrou para a história e
a crônica não saiu. Logo após o título minha casa foi assaltada, fraturei o pé
e o texto perdeu a razão de ser.
Este ano estamos novamente na Libertadores. As noites de
futebol, quartas ou quintas, ainda são, para santistas, para admiradores do futebol
elegante, para torcedores de outros times que passaram a ter o Santos como o
time a ser secado e catiçado, de
jejum. Para eles e para suas esposas, namoradas, noivas, amantes, ficantes. Quando
o glorioso entra em campo, tudo, até o amor, pode esperar.
Será assim hoje. Temos Neymar, o craque que tem monopolizado
as atenções. Temos muitos jogadores confiáveis, alguns que nos pregam peças,
mas temos Paulo Henrique Ganso, que amanhã passará por nova cirurgia. Hoje o
jogo precisa ser dele.
Quero crer que o fato de Ganso entrar em campo um dia antes
de passar por cirurgia não será uma irresponsabilidade. Quero crer que os
adversários não serão desleais, como não foram lá – mesmo com as embananadas do
juiz – assim como o Santos foi leal na Argentina. E sei que o nosso camisa 10
tem todas as condições para brilhar hoje e marcar mais uma estrelinha em seu
caderninho de feitos históricos. Hoje não será apenas o jogo da habilidade, pois
a marcação será tão ou mais forte do que foi no jogo de ida hoje será o jogo do
craque, do cerebral, do craque que dará passes precisos e colocará a bola no
lugar certo, seja na cabeça do atacante, seja no ângulo do adversário.
Enquanto estiver em campo, Ganso, saiba que alguns milhões
de pessoas, religiosamente, estarão em pleno jejum, ao lado ou separados de
suas esposas – na verdade hoje é o dia da bola nas costas também, portanto,
mantenha sua amada ao alcance dos olhos! – todos nós estaremos a espera de um
artista a esculpir sua obra diante dos nossos olhos. Hoje é o seu dia, Paulo
Henrique Ganso. Contamos todos com você.
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