Claro que qualquer pessoa pode ter opinião sobe qualquer
coisa. E, na verdade, todo mundo sempre teve opinião sobre tudo. O que mudou é
que agora essas opiniões são escritas e postadas, ficam ali para apreciação de
pessoas que conhecemos ou não, admiramos ou não.
Deveria ser engraçado o fato de que algumas pessoas são
pagas para ter opinião. Os jornais, revistas e portais de notícias, por
exemplo, gostam de manter um time de jornalistas, articulistas, cronistas
apenas para ficar ali, opinando. Nem sempre aquelas opiniões são embasadas, nem
sempre são, assim, diferentes do que podemos raciocinar sozinhos, nem
sempre aquelas opiniões são, assim, exatamente de quem as escreve, ou são, mas
por um acaso elas refletem a opinião de seus patrões.
Também deveria ser engraçado que jornais, revistas e portais
de notícias paguem para que pessoas com opiniões diferentes das de seus donos
sejam publicadas. É que não são apenas as pessoas que pensam como os patrões
que consomem informação, então, de um jeito ou de outro, é preciso agradar, para vender, inclusive, opinião. Mas
jornais, revistas, emissoras de televisão e portais de notícia criam fama −
reacionários, fascistas, comunistas, pervertidos − e, mais do que nunca, têm
deitado na cama.
É óbvio que o direito à mudança de opinião é sagrado. E as
pessoas podem mudar de opinião para uma outra que lhes seja mais conveniente,
mais lucrativa, que soe mais justa. Nada disso deve ser reprovado, pois o pensamento
evolui, os pontos de vista são móveis, o lambari é pescado e cada um sabe onde
o sapato aperta.
Às vezes é muito difícil separar opinião de dogma ou de
profissão de fé. Também é muito comum que
se defenda uma opinião a despeito de tantos fatos que apontem na direção
contrária. Na maior parte das vezes, a opinião independe da razão, da verdade,
da imparcialidade; a opinião abomina imparcialidades. Em muitos episódios, ela
não é fruto de uma busca pela verdade, mas uma tentativa, por vezes desesperada,
de estar com a razão, de vencer uma discussão.
De vez em quando, as opiniões publicadas por aí são tecidas
por pessoas que realmente têm o que dizer, que estudaram, que raciocinaram, e
que colocam a consciência na frente do interesse, a ciência antes do bolso, a
verdade acima da ideologia, a fé adiante da conveniência. O problema é que essas
pessoas, normalmente, sabem que sempre há espaço para a dúvida, e a opinião, ao
menos aquela do senso comum, se não odeia, certamente tende a despeitar a
dúvida. É por isso que os mais sábios muitas vezes soam como indecisos e os
mais ingênuos têm tanta certeza.
Vivemos a era das certezas e das opiniões definitivas. É por
isso que estamos tão perdidos.
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