quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Ganso assusta Baleia!

Mais uma vez as páginas esportivas deixam o “esporte puro” de lado e se dedicam a contratos, ofertas, negócios. Agora o pânico ronda o Santos Futebol Clube, time santástico que está na história do futebol mundial por ter abrigado Pelé e uma série de craques máximos, como Pita, Giovani, Robinho, Diego (esse anda bem sem prestígio, mas é muito bom de bola), o eficiente Elano e os geniais Neymar e Paulo Henrique Ganso. E é justamente o Ganso que está deixando a torcida mais nobre do mundo de cabelos em pé.
Já devem estar prontos por aí torcedores tão ingênuos quanto truculentos, com suas notas de 2 reais nas mãos e seus coros chulos para chamar Ganso, caso ele realmente saia do time da Vila e vá para o arquirrival Corinthians, de mercenário, vendido e outras coisas do tipo. Nada mais descabido.
Sou santista e se não fosse protestante teria em um possível altar a imagem de Ganso. Fora o jogo histórico contra o Santo André na final do campeonato paulista de 2010, o cara já fez tantas jogadas especiais, já nos deu tantas alegrias com seu futebol ao mesmo tempo elegante, inteligente e eficiente, que qualquer torcedor do Peixe que se preze tem mais é que agradecer ao craque. Já os dirigentes, precisam em primeiro lugar pedir perdão ao profissional Paulo Henrique, por este não ter sido tratado com o respeito que merece em suas duas graves contusões e na hora de renovar o contrato. Se outro time, seja ele o Corinthians, o Asa de Arapiraca ou o Real Madrid der um salário melhor, mais pão, leite e um cafuné, por que motivo o cidadão, profissional e assediado Ganso deveria permanecer no Santos? Por amor à camisa? Pelo clima quente do litoral? Ele, que é inteligente dentro e fora de campo, já percebeu que, se ficar alguns jogos sem ser genial, será cobrado, responsabilizado e maltratado pela torcida, por qualquer torcida, que o ama com a intensidade doentia que assombra os relacionamentos mais sem-vergonha. Ganso não vai querer assumir o papel de mulher de malandro em um lugar, se lhe oferecerem mais grana em outro.
Apesar de ser santista fundamentalista e, caso não fosse protestante, repito, devoto de São Ganso, não me vejo no direito de fazer apelo nenhum ao craque que tão bem fica com a camisa do alvinegro praiano; não peço que fique. Não pago suas contas e, como torcedor, me irritarei se ele fizer uma partida meia-boca pelo Glorioso. Espero que um outro time, do outro lado do Atlântico, faça proposta melhor que qualquer clube que margeie as marginais. Espero que a diretoria do Santos, por vias legais e saudáveis, consiga segurar o astro por mais algum tempo – o suficiente para que voltemos a vencer Libertadores e Mundial já estaria ótimo. Espero que, enquanto permanecer no time da Vila, Ganso seja tratado como merece; que os dirigentes consertem os erros de um passado recente – e isso inclui não mimar Neymar, craque que adora fazer beicinho.
Ainda que seja muito difícil, é necessário deixar que a justiça esteja acima da paixão de torcedor. Futebol é paixão, mas também é negócio; no campo da paixão, bem sabemos que não adianta querer segurar quem deseja partir; na área dos negócios, ninguém almeja deixar de lucrar.
Parafraseando outro mestre, o Millôr Fernandes, enquanto muitos são corintianos doentes, eu sou santista saudável; é em nome dessa sanidade que, mesmo sofrendo, prefiro a justiça de um ganso voando que a opressão de uma baleia com indigestão.

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