quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Clara Averbuck borra o rímel em rede nacional

Há uma conexão direta entre Paulo Coelho e Clarah Averbuck: ambos são escritores que geram notícia mais por assuntos diversos do que pela própria obra. No caso do mago, ao menos, ele vende milhões no mundo todo, embora em suas entrevistas a literatura seja um dos assuntos menos recorrentes. Agora, o que mais aproxima os dois é o fato de acharem suas vidas e opiniões tão interessantes e necessárias que se tornam autorreferênciais. O problema dessas autocitações é que elas revelam, muitas vezes, um conteúdo muito próximo do vácuo.
Clarah acaba de voltar a ser notícia por conta de um reality show produzido e transmitido no Brasil pela Record, o Troca de Família. Creio que ela se mostrou exatamente do jeito que é, o que não deixa de ser uma virtude neste universo onde todos começam vestindo máscaras e terminam com o rímel borrado, o cílio esquerdo descolado e a peruca despetalada. Clarah já deu a largada completamente fora do esquadro.
Mas o mérito da escrevente termina exatamente onde deveria começar: o que ela mostrou para o público foi feio, tão feio quanto o que vem mostrando em sua página no twitter: enquanto corrige os erros de ortografia de quem a critica no site de microblogs, comete desvios de concordância, além de outras derrapadas sintáticas que lhe roubam toda autoridade sobre a escrita que uma pessoa que vive do próprio texto deveria ter.
Mas é certo que este comportamento entre mimado e destemperado – lembra um pouco a polêmica da “sena” da cobra protagonizada por Sasha, filha de Xuxa – não é o pior dos males. Tropicar na escrita, para Clarah e alguns de seus admiradores, pode ser visto toscamente como “opção de estilo”. O que mais incomoda mesmo são as mostras de caráter dessa subcelebridade oriunda do universo das letras.
Clarah mostrou-se indiferente à proposta do programa. Lixando-se para o que a “mãe” deveria fazer, declarou-se desde o início “de férias” e pouco disposta a ajudar nas tarefas domésticas – enquanto a outra mãe do programa tentava colocar um mínimo de ordem no apartamento da escritora e aguentava as manhas da pequena Catarina, uma “Clarah em miniatura”, segundo Reginaldo, que na época das gravações era marido da escritora.
A julgar pelo estado em que deixou o seu apartamento – cuja balbúrdia foi atribuída a uma festa no dia anterior, o que não deveria incluir as dunas de poeira encontradas no quarto de sua filha de seis anos – e pelo comportamento de sua filha, Clarah não alterou seu jeito de ser um milímetro sequer enquanto esteve na família trocada. Se antes de partir ela afirmou que a presença de sua filha às vezes é um problema, pois de vez em quando ela tem prazos e a criança “está lá”, com seus filhos temporários a postura não foi muito diferente. Se em São Paulo – e nos blogs, no twitter, pela vida afora – ela mostra-se sempre muito confiante, demasiadamente arrogante, sem ter vaga noção do tamanho do passo que pode dar, no programa a escritora também agiu assim, cantando – ao que a edição deixou parecer, sem ser convidada – com a banda de um amigo e destruindo a apresentação dos músicos de verdade. Antes, já havia declarado que não era nenhuma “tia dos peito murcho”. Além disso, a filha de Clarah já demonstrou que segue os passos da mãe: enquanto a primeira declarou que não gostou muito de uma visita a um parque aquático por haver ali, dentre outras coisas, “muita celulite” – a escritora não deixou de dar a sua cota de gordura localizada e de tecido subcutâneo inflamado às piscinas – sua filha deu mostras de grande grosseria ao não querer ficar perto de um parceiro de banda de seu padrasto devido à pinta que este tem no rosto. Atribuir pequenas monstruosidades à sinceridade característica das crianças só endossa o modo dessa cidadã encarar a vida.
O que vimos no programa, repito, é o que Clarah exibe em usas aparições públicas. Não creio que houve maldade por parte dos editores – que, aliás, fizeram um trabalho muito competente, com sequências quase autoexplicativas. Restou à escritora apenas esbravejar, falar da suposta feiura e cafonice da outra mãe, chorar em público pelo suposto – nem sei se tão suposto assim – caso que seu ex-marido teve com a outra participante do jogo. Cá pra nós, a outra mãe me pareceu muito mais simpática, asseada e bonita que o exaustor gelatinoso de POA. Sim, traição é algo ruim e egoísta, mas, se há legitimidade em tudo que a pin up da boca do lixo regurgita, tá reclamando do quê?
Muita gente já saiu em defesa de Clarah Averbuck. Declarações de amor e admiração preencheram boa parte do twitter. Há quem confunda grosseria e arrogância com atitude; há quem seja mesquinho e mau-caráter e veja nisso qualidades, sinal de nobreza. Há quem tenha enorme vontade de aparecer e chegue mesmo ao ponto de protagonizar barracos na televisão. Autenticidade. Há quem, a despeito de toda pose que exiba, precise de dinheiro e se submeta a exposições baratas. Há até escritores que não escrevem, ou que escrevem muito mal, e para qualquer uma dessas coisas, sempre haverá público. Há coisas muito piores do que tudo isso e há Clarah Averbuck, que se impõe, entre outras coisas, a árdua tarefa de analista de BBB.
P.S: Hoje tem mais Troca de família. Contrariando minhas preferências televisivas, assistirei. Clarinha, devo admitir: quando não me irrita, você me diverte.

Um comentário:

Créditos disse...

"Há quem confunda grosseria e arrogância com atitude"
Essa é a frase mais perfeita que já li.
Eu até gostava da Clarah Averbuck, li "Máquina de Pinball" mais de uma vez. Gostava da Clarah e da Fernanda Lizardo, autora do livro "Sexto Sexo". As duas começaram blogs na mesma época e acompanhei o desenrolar de seus textos e livros e apostei mais até na Clarah, que tinha mais nome no mercado. Mudei de ideia e hoje fico só com a Fernanda. Depois de ver o comportamento da Clarah Averbuck no Troca de Família, fiquei muito decepcionada. Ela parece tão destemperada e perdida quanto suas personagens. Só que não percebe que isso só funciona na literatura, no papel (que aceita tudo). Livros da Clarah Averbuck pra mim, nunca mais.

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