quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Em defesa do Corinthians

O esporte em geral, mais especificamente os coletivos, e mais estritamente o futebol, é uma excelente válvula de escape para todo o sadismo que um ser humano pode ter. Ele é antidemocrático, posto que apenas um será o vencedor – a máxima de que o importante é competir só serve em competições infantis, para que a molecada perdedora pare de chorar. O esporte é sádico, pois o grande atleta geralmente é o que, pela sua técnica refinada, é capaz de humilhar o adversário. Ou não gostamos de ver dribles que deixam o marcador estirado no chão, chapéus, saias, golaços por cobertura, de bicicleta, de voleio, e quem não se diverte quando um goleiro leva um frangaço?
E nós, os torcedores, muitas vezes nos divertimos mais ao ver um time rival perder do que quando o nosso vence. Isso é sinal de inveja, rancor, maldade recalcada.
Hoje boa parte do Brasil, ao custo da dor alheia, de pessoas que amamos, carrega um risinho cínico de satisfação. Eu, por exemplo, tenho irmã e esposa corintiana, sendo que esta arrastou toda sua família de gamb... digo, de torcedores desta nobre agremiação paulistana. Minha esposa tomou dois calmantes diferentes para conseguir dormir. Já meu sogro adormeceu rapidamente, após marretar com a própria cabeça todas as paredes de sua casa. Seu último suspiro, quando já estava coroado de galos e com a voz pastosa foi:
- E o Roberto Carlos?
A noite da cidade, que vive sempre nos extremos, foi de luto fechadíssimo, tiros para o alto de revolta, fogos de artifício, danças que exultavam a mais plena felicidade. Barbapapa, o cachorro boêmio do bairro, alvinegro – infelizmente para ele, não praiano – passou a noite bebendo água de valeta, pra esquecer. Foi amparado por amigos que gritavam em prantos “aqui tem bando de louco”, quando tentava ingerir vidro moído. Barbapapa teve boca e focinho lambidos e beijados pelos companheiros, sentado na calçada diante do botequim Fecha-Nunca, e retribuiu tristemente, com fartas lambidas. A dor irmana até espécies distintas, e um beijo amigo não déia de ser um confortável consolo.
Enquanto isso eu celebrava ingerindo baldes de gelatina diet de uva – era o que tínhamos na geladeira no momento – e pensava como a vida pode nos fornecer pequenas, mas intensas, alegrias no meio da noite de uma quarta-feira qualquer. Mais surpreendente ainda: como um joguinho sem graça pode entrar para a história e nos deixar tão felizes?
Ressalto aqui minha indignação com o sadismo que povoa os corações imundos dessa raça humana descarada, e termino com uma palavra de conforto para os corintianos tristes nesta quinta-feira abafada, quente, porém sem sol:
TOMA CURINTIA!!! TIMECO DE VILA! CENTENÁRIO CEMTENADA!!!
Esperamos, coirmãos corintianos, que vossa agremiação ainda possa nos dar muitas alegrias ao longo deste 2011 que, rejubilamos, só está começando...

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