quinta-feira, novembro 25, 2010

Contra-aforismos VIII e IX de o anticristo

VIII
Sabe por que decidi escrever esse Antinietzsche? Por que ele me considerou seu antagonista. Apesar de não ser teólogo, tenho sangue de teólogo, assim como C.S. Lewis, Martinho Lutero, Martin Luther King, Chesterton, Ariovaldo Ramos, T.S. Eliot, Santo Agostinho, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Guimarães Rosa...
Não quero dizer com isso que tenha o talento deles, mas o mesmo tipo de inquietação, a mesma fé (não é bem a mesma fé, mas temos em comum o fato de que temos fé), almejamos o mesmo futuro para a humanidade.
Agora, cá pra nós, o bigode dizer que há nos teólogos presunção porque, sentindo-se por algum motivo mais elevados, “olham a realidade com superior indiferença” é piada. Ou Nietzsche, marotamente, incluiu-se entre os teólogos, por ter ele mesmo estudado teologia, e por olhar a realidade com superior indiferença, ou fez aqui o que Freud, ou ao menos os psicanalistas amadores, chamaria de “transferência”, passando para os “inimigos” defeitos que ele mesmo tem, mas dos quais não se dá conta.

IX
É verdade que existe uma fé doentia, que mergulha seus adeptos numa letargia covarde, que vê em cada fracasso, cada injustiça, em cada absurdo a justificativa de que Deus está por trás de tudo, arregimentando tudo, controlando tudo. De fato, essa fé agride o próprio princípio cristão, que se caracteriza pela inconformidade com a injustiça, a covardia, a imoralidade, a corrupção, a opressão. Jesus, o Cristo, não pregou a passividade, mas a sabedoria e a atitude em prol de uma causa maior. Pregou a não violência, ou antes de pregá-la, a viveu, assim como a misericórdia, a mansidão, a justiça. Jesus não se conformou a nada que não fosse a sua própria consciência, totalmente alinhada à consciência do Pai. Uma fé passiva, subserviente, fraca, conformista, não serve, assim como a fé voltada para o próprio umbigo, dura, agressiva, incapaz de colocar o próximo acima e à frente, também, não. Aquela, não resta duvida, é a fé dos otários; esta, é a fé do bigode – e nenhuma das duas é cristã.
Seria verdade que a guerra é o triunfo da humanidade, ou que ao menos encaminha a humanidade para o triunfo? Seria verdade que a ideia de força, de virilidade, é realmente mais produtiva e nobre do que a compaixão? Seria possível que Nietzsche, se não contasse com a compaixão da irmã e de meia dúzia de gatos pingados (meia dúzia de três ou quatro, vale frisar) alcançasse a importância que adquiriu na História? Ora, vale perguntar, se é fato que boa parte dos teólogos não compreende o que venha a ser a Verdade – ou a manipula sem o menor escrúpulo –: não é mentira que nem tudo que sai da cabeça do Bigode é verdadeiramente verdadeiro.

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