quarta-feira, novembro 10, 2010

Comentário e contra-aforismo VII

Pensamento inconcluso
Esse Nietzsche, na verdade, tinha uma grande inveja de Jeová, pois achava-se mais apto para o cargo de Deus. Afinal, em seu currículo constavam Filologia, Letras Clássicas e uma boa experiência em platonices abesteiradas e como queridinho da irmãzinha desprovida de grandes atributos estéticos.
Dionísio Pennafort, crítico literário obtuso e igualmente rancoroso, protestante, num momento de desabafo quase contido.

VII
Há vertentes do cristianismo que são completamente nietzscheanas, pois renegam o exercício da piedade. Nesses casos, seja pela ambição desmedida de poder – pensemos em alguns papas glutões, devassos e tiranos – seja pela busca incessante por bens materiais e curas milagrosas, na contramão cristã denominada Teologia da Prosperidade, a piedade é sinônimo de fraqueza. No primeiro caso, os personagens são déspotas e pronto. No segundo, o povo, guiado por cegos, acredita que Deus criou um sistema no qual pode tornar-se refém de quem agir de acordo com um determinado programa que inclui falso moralismo e grandes sacrifícios em forma de gordas ofertas a determinados “ministérios”. Aqueles não são piedosos por opção de vida; esses, nem lembram que a piedade existe, e a julgam mesmo desnecessária, pois quem carece de piedade está em falta com as prestações do carnê do baú da felicidade celeste.
De fato a piedade é antinatural e luta ao lado dos condenados pela vida. E é justamente por isso que a morte do Nazareno não foi desproporcional: sendo todos nós condenados pela vida, só mesmo um grande sacrifício para nos salvar a todos.
Em nossos tempos, podemos dizer que a piedade cristã é falha quando não existe – na Teologia da Prosperidade, por exemplo. Não é piedoso o que condena, o que ultraja, o que oprime – seja ele cristão ou não. O único problema da piedade é quando ela ocorre num sentido de superioridade de quem a pratica, pois isso implica no piedoso julgar aos outros inferiores; quando ela é praticada na forma da compaixão e da identificação – estamos todos no mesmo rebanho de condenados – torna-se elevada, sublime, iguala os homens, estabelece a paz e desdenha dos conflitos e da guerra. É assim que a vida é preservada, sem a nojenta prática do darwinismo social, ao qual o próprio sifilítico, meio doido, enxaquecado, nauseabundo, estrábico e feio pra diabo Nietzsche não sobreviveria.

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