terça-feira, janeiro 25, 2011

O último show?

Por muitos anos, se alguém me perguntasse qual era a minha banda de rock favorita, eu não hesitaria em dizer Titãs. Desde os dez anos enfeitiçado pelas canções do sempre citado em qualquer lista dos discos mais importantes da música brasileira Cabeça Dinosssauro, passando pela sua, ao menos na minha cabeça, sequência Jesus não tem dentes no país dos banguelas¬, que eu sempre escutei e entoei de uma perspectiva cristã, pensando que Jesus, era Deus e se fez homem, andou com pobres, prostitutas, loucos e marginalizados em geral, se fez de fraco para com os fracos etc., então seria normal se fazer de banguela para os banguelas. Na minha cabeça cristã, a única canção que gerava algum desconforto era mesmo igreja, que eu cantava, sim, mas mudava indiscretamente a letra para não sentir remorsos eclesiásticos.
Durante algum tempo eu acreditava ser o fã nº 1 dos Titãs, por saber todas as músicas a partir do Cabeça Dinossauro, por ter todos os discos – alguns em fita cassete, é verdade – e por ir aos shows sempre que podia. Por sorte, moro próximo ao SESC Interlagos, que foi e ainda é palco de alguns grandes artistas brasileiros – por anos o programa Bem Brasil, da TV Cultura, foi gravado no SESC Interlagos, aliás, em sua fase mais glamourosa. Ali, assisti a mais de m show da minha banda favorita.
Desconfio também que assisti ao último show dos Titãs em São Paulo com a formação clássica, ainda com Arnaldo Antunes. Foi em um show gratuito no Vale do Anhagabaú, se não me engano no aniversário de 100 anos do viaduto do Chá. Na mesma noite tocaram Lecy Brandão e Morais Moreira. Foi no mesmo ano do massacre dos presos no Carandiru, para quem Arnaldo dedicou a canção Porrada.
Depois vi os lançamentos dos discos Titanomaquia, o mais porrada de todos, influenciado pelo grunge que estava na moda – e também pelo produtor Jack Endino – e Domingo.
Os titãs me traduziam. As canções tinham a pegada furiosa nas melodias, nos riffs e nas letras, mas também tinham uma preocupação estética que não se via em qualquer banda. Após o esplendoroso sucesso do Acústico deles – formato que ainda não estava depauperado pela força da grana que ergue e destróis coisas belas – eles entraram numa fase que não acompanhei muito. As coletâneas, as versões e a volta para o estilo mais romântico dos dois primeiros discos, mas sem a graça new wave de outrora, já não me agradavam. Quando parava para ouvir os Titãs, me detinha nas músicas do Tudo ao mesmo tempo agora, disco deles que mais escutei, e nos já citados. Acompanhei de longe as experiências solo de alguns deles, virei fã incondicional do Arnaldo Antunes – eu queria ser Arnaldo Antunes – e curti muita coisa do Nando Reis, antes e depois de sua saída da banda. Li os dois últimos livros do Tony Bellotto; tive até o privilégio de ser um dos revisores de seu No Buraco, lançado em setembro de 2010, mesmo mês em que me casei.
Aliás, lendo No Buraco e mais alguns textos do Tony publicados no blog da Companhia das Letras, além de uma entrevista que ele deu no Estadão, fiquei com a impressão de que os Titãs já estavam no passado. Tudo, nas palavras do guitarrista e escritor, faziam crer que ele estava com muita vontade de abandonar a vida de rockstar e dedicar-se a algo mais compatível com a sua idade – ele acabou de completar 50 anos, idade em torno da qual todos os titãs gravitam. Parece que ao menos Tony anda percebendo que o corpo, apesar de bem conservado, ainda é pouco. E apesar de já não ser um fã tão ardoroso da banda, de já não conhecer todas as canções, me entristece a proximidade do fim. Sim, todo carnaval tem seu fim, mas o que vem depois, às vezes não passa de picaretagem, seja ela barbuda ou colorida.
Hoje, 25 de janeiro de 2011, o pulso ainda pulsa, e teremos Titãs ao vivo no SESC Interlagos. Provavelmente não irei, pois estou atolado em compromissos inadiáveis. E também porque sei que é cedo ou tarde demais pra dizer adeus.

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