segunda-feira, novembro 10, 2008

Música Muda: 25 anos de MTV
A MTV estadunidense — a primogênita — acaba de completar 25 anos; a brasileira está prestes a completar 16. Durante esse tempo muita coisa aconteceu na programação desse canal, que sempre nos ajudou a entender o comportamento de jovens e adolescentes, principalmente por meio dos artistas que aparecem nela. Atualmente, é notável a gradativa redução do espaço na grade dedicado realmente à música.
Pode-se alegar, com alguma razão, que a MTV é um canal dirigido aos jovens e que os interesses desse público são muito mais amplos do que as músicas de seus artistas preferidos. Essa constatação permitiu que muitos programas interessantes surgissem ao longo da história da MTV: para falarmos apenas da programação da filial brasileira, podemos citar Hermes e Renato, os programas de entrevistas do João Gordo, os primeiros programas dedicados à sexualidade — que tiveram o seu auge quando o doutor Jairo Bauer era um dos apresentadores, e atualmente vivem um momento de visível desgaste — o Programa de debates Meninas Veneno e os cínicos, no mais delicioso sentido do termo, Top Top e Balela. Mas a MTV sempre deu espaço para a música, espaço cada vez menos privilegiado, é bem verdade.
A MTV sempre esteve antenada no gosto de seu público. Percebeu que a maneira de ouvir música mudou. E traduziu essa mudança em sua grade atual. Sim, a música ainda é bastante presente em sua programação, mas cada vez menos ela se sustenta sozinha, cada vez menos é protagonista.
Não podemos deixar de dizer que desde a invenção do videoclipe a música começou a usar muletas na televisão. Parecia pouco interessante apenas vermos um cantor ou grupo interpretando suas canções. Mas os clipes trouxeram sua colaboração positiva. Não é mais tão necessário para o artista aparecer em programas de auditório dublando a si mesmo. O clipe também permite que ele, o artista, apareça várias vezes ao dia na programação da emissora. Também surgiram com a profissionalização dessa maneira de divulgar a música novas formas de manifestação, às vezes mais, às vezes menos artísticas, e abriu-se um novo, porém restrito, mercado de trabalho. Mas ele sempre esteve a favor da música.
Hoje em dia, quando sintonizamos na MTV no período da tarde, por exemplo, percebemos que já não bastam os clipes. Há ao pé da tela um chat, onde os telespectadores conversam, paqueram, discutem assuntos diversos. Já vi também um jogo, onde o telespectador “batia pênaltis”. A música que rola é apenas para quebrar o silêncio.
Por mais esquisito e desrespeitoso que isso possa parecer, trata-se de uma tendência. Os jovens atualmente ouvem música ao computador, enquanto fazem outras coisas, como conversar em algum chat, realizar uma pesquisa (num complexo sistema conhecido como recortar & colar), jogar ou vasculhar sites de relacionamento. Atualmente, um dos sinais de velhice é ouvir música no “aparelho de som”.
Como a responsabilidade da MTV não é outra que não seja manter-se no ar e conseguir patrocinadores, ela está de parabéns. Já os artistas, educadores e responsáveis pelas políticas públicas e culturais precisam, além de entender esse fenômeno, criar caminhos para que a arte, em especial a música, não conquiste o mesmo prestígio que os papéis de parede ocupam hoje na sociedade.
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Escrevi o artigo acima há dois anos, para o blog que eu mantinha à época. De lá pra cá a MTV mudou mais um pouco. Voltou a valorizar a música, com mais programas dedicados a ela, deu mais espaço em sua programação para os videoclipes, que saíram da UTI, deixou de lado os programas mais esculhambados sobre sexo. A música, ao que parece, embora não seja a única ou principal estrela da MTV, resgatou sua dignidade. Ela ainda é importante e merece respeito.
Mas a confusão persiste. Gravadoras, estúdios, divulgadores, emissoras de rádio, bandas, compositores, mídias, suportes, tecnologias, jabá, internet, e-mule, videoclipe, youtube, produtores: nada é como antes, mesmo.
Ainda não ficou claro se a nova maneira de lidar com a música é melhor ou pior do que as outras que já existiram. Vender um disco – “disco”? – pela internet, sem preço definido, como faz o Radiohead é o grande barato? Deixar as músicas gratuitamente na rede e aguardar contatos para shows é a saída? Mandar todas as rádios para o quinto círculo de fogo da cabala mediúnica não estraga a carreira de ninguém? A resposta para todas estas perguntas são as mesmas: “mais ou menos” e “depende”.
Os grandes meios de comunicação têm seu poder bastante reduzido, mas ainda são importantes, embora já não sejam fundamentais. Primeiro porque ainda moramos em um país onde a pobreza não é mero objeto de estudo das ciências humanas: ela é a realidade de alguns milhões de pessoas. Segundo porque além de pobres somos mal educados e mal informados: Cordel do Fogo Encantado, Itamar Assumpção, Riachão, Noel Rosa, Tom Zé, Antônio Nóbrega, João Bosco, Luiz Tatit, Mônica Salmaso, Walter Franco, para citarmos apenas alguns mestres, são nomes desconhecidos de boa parte das pessoas, incluindo jovens “antenados” e formadores de opinião.
Somando a falta de acesso às novas mídias à nossa incapacidade de gostar ou desgostar de algo que desconhecemos, temos a certeza de que as grandes emissoras de televisão ainda precisam ajudar a divulgar a arte em geral, não apenas a de massa, mais palatável e descartável, mas as “opções alternativas” também. E a MTV ainda nos deve muita coisa.

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