O ser humano dá início ao seu apodrecimento quando pensa que
por algum motivo endógeno é mais bonito, mais inteligente, mais
trabalhador,mais especial, mais merecedor que todos os outros ao seu redor de
todas as benesses catalogadas e das que ainda estão em fase de licitação.
É nesse momento que ele começa a agir dentro de seu direito
adquirido de humilhar, menosprezar, agredir, ridicularizar, de indexar todo
mundo entre os seus elevados pares e os subumanos que merecem a fome, a peste,
a guerra e a morte.
Também é nesse momento que ele passa a não respeitar as
regras do jogo, de qualquer jogo que não seja o benefício próprio. Não
conseguiu o emprego porque alguém menos competente, claro, mas com alguma carta
na manga (pistolão, nepotismo, teste do sofá) tomou a vaga que deveria ser sua.
Não fechou negócio porque o concorrente apresentou um orçamento mais em conta
(certamente apresentará um serviço porco). Levou um fora porque a garota tem
mau gosto ou é cega o suficiente para não enxergar suas inquestionáveis
qualidades.
Pessoas com esse perfil começaram a vociferar com muito mais
intensidade nos últimos anos por causa da eleição do Lula, que não apenas foi
reeleito, mas também fez sua sucessora, que segue com altos índices de
popularidade e com realizações significativas. Está claro, para os apodrecidos,
que votar em Lula só é possível por causa da ignorância ou da esmola do bolsa
família. Lula e sua corja se alimentam da burrice e da miséria. Está claro que
um semianalfabeto − que sempre contou com o apoio de vários dos principais
intelectuais brasileiros, mas quem são os principais intelectuais brasileiros
diante dos gênios recalcados? − não tem a menor condição de promover qualquer
realização de peso, que só a corrupção pode mantê-lo no poder e que o aparente
sucesso − que ruirá a qualquer momento, vale a sua torcida! − só foi possível
por causa dos bons ventos da economia mundial, ainda que estes bons ventos
sejam vistos como verdadeiros furacões em muitos países e que estejam demorando
muito para passar.
Assumir as próprias fraquezas, repensar os erros, traçar
novas estratégias de ação, reconhecer no outro qualidades, aceitar as regras do
jogo − jogo capitalista, muitas vezes, da oferta e da procura, da livre
concorrência, que esses mesmos recalcados tanto exaltam quando lhes é favorável
− nada disso é sequer levado em consideração por esses chorões em pleno estado
de putrefação. Eles são bons demais para perderem tempo com autocrítica.
Em tempo: não sou tão entusiasta do governo Lula, tampouco
da Dilma. Saúde e educação, áreas básicas, de sobrevivência de qualquer
sociedade que se preocupe com seu povo e com seu futuro, são negligenciadas por
este governo −assim como são pelos governos ocupados pela oposição. Mas, na
hora de criticá-los, use argumentos que não sejam pautados no rancor, no
preconceito, na arrogância. Façam o mesmo nas questões pessoais: autocrítica,
reconhecimento das qualidades do outro nunca fizeram mal a ninguém e são remédios
eficazes contra a putrefação das próprias ideias, assim como a humildade não
fingida. E parem de reclamar um pouco, pelo amor de Deus! Quem não pensa como
vocês já não está aguentando mais.