segunda-feira, outubro 25, 2010

Sem Fundo

No Buraco, de Tony Bellotto, é o primeiro grande romance sobre o rock brasileiro

Toscos festivais universitários pelo interior, o início da agonia da indústria fonográfica mundial, figurinos espalhafatosos, pequenas doses de mistério, um senso de humor que por vezes chega ao hilário, sexo, drogas e rock´n´roll. E o que é melhor: tudo isso num clima meio autobiografia, meio confissão, muita ficção. O jogo mais delicioso em O Buraco, novo livro de Tony Bellotto, é descobrir o que ali é realidade mal disfarçada, o que é ficção pura – aliás, a ideia de ficção pura, estou cada vez mais certo disso, é pura ficção.
Dentre muitas coisas, é possível dizer que No Buraco não é apenas, o que já não seria pouco, um livro sobre a fase áurea do rock brasileiro: sua leitura é bastante agradável e fluente, com um ritmo entre caótico e frenético, mas nunca truncado, fruto das reminiscências de seu narrador, um ex-guitarrista de rock que pretende se tornar escritor – alter-ego de Bellotto? Vai saber...
De certo, pode-se afirmar que as histórias que vão se amontoando, saídas da mente já nem tão saudável do narrador, são costuradas por acontecimentos inusitados que dão ao romance um ar “quase” policial. Há pouco para descobrir, e os mistérios não são o centro das peripécias do guitarrista coroa, meio junkie e meio patético que vive de um passado pouco glorioso, numa quitinete em Perdizes – retrato perfeito de sua decadência que ainda fuça as migalhas de “nobreza” – lidando com as sobras de seu sucesso, especialmente com as mulheres, e com a ajuda de sua mãe, antes que ela adoecesse – afinal, o universo do rock é pródigo em personagens que se recusam a sair da adolescência, no bom e no mau sentido.
Enfim, No Buraco é essencial para quem curtiu – ou ainda curte, como eu – o rock brasileiro dos anos oitenta, mas não abre mão de uma história bem-feita. Diversão e arte garantidas!

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